sexta-feira, 23 de abril de 2010

O (incerto) futuro dos livros


Hoje, comemora-se o Dia Mundial do Livro, instituído pela UNESCO em 1996 por ser a mesma data da morte de dois dos maiores escritores de todos os tempos: Miguel de Cervantes e William Shakespeare.

O livro ainda é sinônimo de fomento à inteligência, mas, do jeito que as coisas andam, não será por muito tempo. Já participei de muitas discussões sobre o assunto; em muitas delas, prevalecia o tom tradicionalista de que o papel é insubstituível e, portanto, o livro jamais deixaria de sair de circulação. Isso é meio verdade. Afinal, o disco  foi mercadologicamente superado pelo CD e mesmo assim permanece à venda.

Entretanto, a utilização do vinil hoje em dia é muito mais uma prática saudosista do que realmente uma necessidade de consumo. Com o livro, pode ocorrer o mesmo.

Como muitos já devem estar exaustos de saber, o iPad é a nova pata dos ovos de ouro. Com suas vendas a mil, o mercado, obviamente, irá direcionar boa parte da produção literária para esta plataforma. Os usuários mais modernos devem estar adorando este fato, mas isso implica em alguns embargos de propriedade intelectual que podem mudar o modo de comercialização de obras literárias.

Embargos como: quem será o responsável pela distribuição? - Até agora, só se tem notícia de que o Amazon.com detém a maioria dos títulos autorais, já que é um dos principais mercados on-line da atualidade e fecham, com grande vantagem, parceria com os fabricantes de aparelhos como Apple e (posteriormente virá a ser) Google. Isso pode acarretar em um monopólio de vendas, que em nada ajudaria o leitor consumidor.

Com isso, a prática saudosista (como acredito que um dia a leitura de um livro de papel será - posso e espero estar enganado) acaba ganhando forças, o que é uma boa e ainda deixa as grandes livrarias inseridas no mercado. E isso está realmente acontecendo. Recentemente, a Livraria Cultura iniciou suas vendas de e-books on-line, disponibilizando títulos que saem até 20% mais barato do que se for comprar em papel.

Assim, as livrarias estariam passando a desempenhar o papel de lojas segmentadas on-line, invertendo todo o processo de compra de títulos. Sendo mais barato, consequentemente o autor pode ou não ter prejuízos com a venda da obra. Levando em consideração que apenas uma pequena quantia vai para o seu bolso (o resto para editoras, livrarias e publishers), pode ser uma boa sacada ter uma obra on-line. Mas isso só se provará como uma medida realmente lucrativa se os hábitos de leitura mudarem com a aquisição destes novos aparelhos tecnológicos, como Kindle, iPad e outros e-readers.

Quanto aos livros de papel, para sobreviverem, dependem de inúmeros fatores que independem das inovações tecnológicas. Um deles é o barateamento de obras literárias. Como ainda se vê, infelizmente, no Brasil o livro ainda é inacessível para muitas leitores. Editoras e livrarias lucram a rodo com a venda de títulos que acabam sendo atribuídos a uma elite literária que tem poder aquisitivo para comprá-los.

Mas o que mantém o otimismo é saber que os sebos estão cada vez mais onipresentes na rede, o que faz com que leitores recorram a eles para adquirirem livros mais baratos. Em minha opinião, esse é o fator nº 1 para a sobrevivência do livro de papel em longo prazo. Com o redirecionamento da produção literária para as novas plataformas, os sebos ficariam bem mais requisitados. Não só pelo saudosismo - mas também pelo grande catálogo de que dispõem - muitas lojinhas de livros usados estão desenvolvendo seu website para alavancar as vendas (como mostra o vídeo abaixo).


O fator nº 2 é a hereditariedade dos hábitos. Por exemplo, se você, leitor de livro de papel, tem contato com as obras literárias desta maneira, consequentemente irá passar para filhos, netos, etc. Isso é meio que óbvio. Mas, o ponto que quero chegar é: o saudosismo ao livro pode fazê-lo resistir diante da brutalidade do mercado em querer investir maciçamente nas novas plataformas.

E, finalmente, o fator nº 3: se nenhuma das promessas de tendência de leitura e-reader der certo, certamente o livro de papel prevalecerá. Isso é algo impossível de prever, tendo em vista que a maioria dos leitores são de classe média pra cima e geralmente têm ou terá acesso a esses aparatos. Com os padrões mudando, pode ser que o papel se torne mais acessível e garanta que a parcela mais baixa tenha mais contato com as obras literárias.

Como se vê, a permanência do livro de papel é positiva em praticamente todos os aspectos. Ela é mais aceita, inclusive, com a chegada destas novas plataformas. Se o barateamento realmente for o caminho, o mundo poderá ler mais e, consequentemente, o analfabetismo poderá ser vencido. Mas isso, é claro, também depende de políticas públicas e privadas que estimulem a leitura, possibilitem o ingresso das novas tecnologias e tornem o livro de papel um material mais acessível. 


Compartilhe este Post:
MySpace Agregar a Technorati Agregar a Google Agregar a Yahoo! Adicionar ao Blogblogs

14 Atemporalizados:

Anônimo disse...

Apesar de toda a tecnologia,eu espero que os livros de papeis não saiam de circulação,pois não tem algo mais prazeroso do que vc manusear e sentir o cheiro do livro de papel.

Principe Encantado disse...

Não creio que será substituido, a maioria gosta mesmo de folear as páginas, é muito mais gostoso.
Abraços forte

Márcia W. disse...

Tiago

sinto falta nessas discussões sobre o futuro do livro de se falar sobre o papel das bibliotecas, como fornecedoras de conhecimento e sobretudo como mecanismos de criação do hábito/gosto pela leitura. A questão econômica também passa por aí. Quem tem uma boa biblioteca por perto, se mantém informado, atualizado etcterado sem precisar ter necessariamente um computador ou kindle da vida.
como você mais ou menos disse, seja qual for o futuro do livro, o importante é que a leitura permaneça e o acesso seja cada vez mais amplo, geral e tal....

Tiago Ferreira da Silva disse...

Sumie,
Também espero que o livro de papel permaneça. Mas também espero que ele se torne um material mais acessível pra todos. Quem sabe com a evolução dessas tecnologias isso se torne possível, não é?

Volte sempre. Abs!

Tiago Ferreira da Silva disse...

Princ,

Eu também gosto de folhear, mas também é muito atrativo saber que posso ter milhares de livros disponíveis em um aparelho. Mas creio que a tendência é o hábito da leitura de livro de papel virar algo saudosista, o que não quer dizer que ele será substituído.

Tiago Ferreira da Silva disse...

Márcia,

Muito importante o ponto que você colocou. As bibliotecas são importantíssimas para a criação do hábito de leitura, mas, realmente, não sei o que acontecerá se essa moda dos e-readers realmente infestar. Creio que as bibliotecas permanecerão em bairros mais periféricos mesmo, onde a acessibilidade a esses aparatos é bem restrita. Mas acho que deve haver um estímulo do Ministério da Cultura em relação a esse setor,pois não adianta nada construir várias delas se ninguém tem interesse em frequentá-las. Isso deve partir do próprio sistema de ensino e, obviamente, do hábito/gosto pela leitura.

Muito obrigado pelo comentário.

Abs!

Mr.Jones disse...

Por mais que se tenha disponibilidades de livros virtuais para se ler. Eu ainda prefiro os de papeis.
uma otima postagem.,
abçs

Tiago Ferreira da Silva disse...

Mr. Jones,

Eu também gosto de folhear o papel.

Muito obrigado pelo comentário, volte sempre.
Abs!

Mattheus Rocha disse...

Nada substitui o cheiro de um livro novo, ou a felicidade de se achar uma pérola perdida em sebos.

Quanto ao analfabetismo, o barateamento de livros pode até ajudar nessa questão, mas não no analfabetismo funcional, que é um problema MUITO grave no Brasil. Não basta saber ler, é preciso saber compreender e interpretar.

Abraços !!!

Tiago Ferreira da Silva disse...

Mattheus,

Muito bem colocado. Foi como eu frisei no final do artigo: tudo isso também depende de políticas públicas e privadas, que podem muito bem, por exemplo, aproveitar (quem sabe?) no futuro o barateamento dos livros para disseminar o conhecimento.

Deixar que o preço dos livros em si conduzam a erradicação do analfabetismo é uma utopia das brabas!

Mas isso pode, sim, contribuir para a queda do analfabetismo - pelo menos na minha opinião. E aí entra a política, o que complica ainda mais.

Valew pelo comentário.
Abs!

Max Martins disse...

Tiago,

Muito bom o texto.
Eu cresci lendo e mantenho esse hábito. Ficaria muito triste se o livro impresso fosse substituído. Não gosto de ler livros no computador, embora passe um bom tempo do dia lendo em sites...mas, livro não tem jeito, no pc não dá certo.

Um forte abraço.

P.S. Dei uma passada lá no blog novo. Tá bem legal.

Anônimo disse...

Nada como o papel na mão para ser lido onde se quer.
Quem sabe se, ameaçados pelas novidades, os editores barateiem o preço dos livros, lançando também mais edições populares.
Quero ler o livro não uma capa sofisticada que torna o preço do livro absurdo.
Abraços!
Felipe

Tiago Ferreira da Silva disse...

Max,

Só espero que, com a venda de leitores de e-book, o livro fique mais barato. Mas ele não vai sumir, não mesmo!!!

Obrigado por visitar meu novo blog. Espero que visite sempre!

Abraços,
Tiago

Tiago Ferreira da Silva disse...

Felipe,

Acho que essa pode ser a principal vantagem de ter livros eletrônicos: saber que as obras de papel podem baratear.
Afinal, como você ressaltou, o que importa é o conteúdo e não sofisticação da capa e das páginas.

Abs,
Tiago

Related Posts with Thumbnails