sexta-feira, 24 de abril de 2009

Exportando cordialidade

Como nunca antes na história deste país, Luiz Inácio Lula da Silva esbanja de sua popularidade mundial. Apesar da última pesquisa realizada pelo Datafolha registrar uma queda de 70% para 65% da aprovação ao seu governo, o olhar externo reflete uma realidade um tanto quanto diferente.

Seu tom pacífico nas pautas internacionais, que incluem desde a aprovação da Venezuela no bloco Mercosul ao envio de exércitos brasileiros para uma missão de paz no Haiti, despertaram atenção nas hegemonias mundiais. Não é a toa que Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, o reverenciou no último encontro que tiveram.

A estagnação interna do Brasil, exemplificadas pelas abusivas ocorrências de corrupção e superfaturamento de obras governamentais, passam como meros casos isolados mediante à importância da cordialidade de Lula nos assuntos internacionais. Essa nova visão do Brasil pode ser uma saliência da política externa de FHC, que criava oportunidades para um livre mercado, mas é baseada através das referências de um presidente único - ao mesmo tempo astuto e ingênuo falastrão.

O mundo vive um clima de tensão, principalmente na busca astronômica de recursos naturais para sustentar a crescente população mundial. A irreversibilidade do aquecimento global acirrou ainda mais essa prioridade e tensionou algumas potências do petróleo, que podem ver seus cofres se esvaziando com essa nova 'caça global'. A crise mundial anunciada no último 15 de setembro também criou novas perspectivas de socorro para os países desenvolvidos.

Com isso, emergentes como Brasil, China e Índia ganham cada vez mais relevância nas decisões político-econômicas do globo. Brasil, por ser o país mais dependente de recursos naturais, tem uma inflência enorme nas discussões sobre biocombustíveis, exportação de carnes bovinas e agronegócios. E a personalidade por vezes magistral de Lula reforça sua importância pacífica para assuntos bilaterais estratégicos - um dos slogans da campanha de Obama.

A América Latina é palco de crise de identidades ideológicas e conflitos triviais entre alguns de seus líderes, esquerdistas ou não. A imprensa vive esculachando o governo de Hugo Chávez por aprovar uma emenda que permite sua reeleição após os oito anos de mandato; Álvaro Uribe e Rafael Corrêa tiveram um desentendimento graças à invasão colombiana no Equador para capturar refugiados das FARC; Evo Morales já criou barreiras protecionistas para o consumo do gás boliviano por parte dos brasileiros que moram nas áreas fronteiriças. E que papel o Brasil vem desempenhando? Amparar estes países e procurar a solução para os problemas de modo que não afete a correlação política do Mercosul - e não arranje problemas com os vizinhos a fim de evitar a intensificação desses conflitos.

Essa é uma política que vem atraindo Obama. Porque os líderes notórios como Chávez e o próprio Rafael Castro, irmão do guerrilheiro Fidel e autoridade máxima em Cuba, podem facilitar um diálogo produtivo com os Estados Unidos. Ambos países repudiavam o governo Bush e sua ignorância nas relações com as nações latino-americanas.

Mas agora é diferente. Obama preconiza a união diplomática com a América Latina e vê em Lula um importante aliado para esta conquista. Não é mais a política anti-terrorista que está em pauta, mas o conserto dos estragos políticos, econômicos e sociais causado pela negligência de Bush.

O tom paciente, recíproco e afável de Lula nos assuntos internacionais despontam a proeminência brasileira no mundo. Ganha o país, que poderá ser melhor interpretado pelo olhar estrangeiro e terá mais importância na solução dos problemas que realmente interessam ao mundo. Falta saber quais são as estratégias a longo prazo dos países desenvolvidos em aliarem-se ao Brasil. Como foi dito, somos independentes no abastecimento interno (e ainda sobra para o externo) com nossa riqueza de recursos naturais; não priorizamos o fortalecimento bélico, mas temos um exército capaz de defender a seguridade nacional.

Entretanto, a ampla multiplicidade cultural que o país abriga pode ser passível a uma exploração estrangeira estrategicamente planejada, que soma a internacionalização da Amazônia, a crescente submissão trabalhista aos turistas e uma possível falta de atenção ao guarnecimento de propriedades intelectuais do Brasil. Como se vê, nem sempre a política externa dissolve a problemática em relação aos assuntos estrangeiros - e olha que nem menciono a miséria, a péssima distribuição de renda e a excessividade de corrupção que aqui assolam.

O futuro é incerto e pode causar consequências drásticas ao país se todos esses contornos não forem devidamente revistos. Lula vem se destacando no cenário e pode criar um mundo com uma cara mais brasileira. Mas, como Sérgio Buarque já teorizou em Raízes do Brasil, a cordialidade pode se tornar um problema, tanto para relações internas quanto externas, por não priorizar o conhecimento intelectual dos assuntos que o rondam - algo que Lula, infelizmente, deixa de fazer. Aquele velho jargão: ninguém é perfeito.

Veja a paródia que fizeram com a aparição do presidente Lula no South Park:

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