Por mais ambíguo que seja o ícone Jasper Johns, sua obra caminha nas margens do expressionismo abstrato para revelar sua indignação com a América
Toda expressão artística perdura um tempo no espaço até encontrar transformações - sejam elas críticas, rejeições e muitas vezes até mesmo a ingratidão de não ser compreendido. Porém, quer queira quer não, a arte também passa por um processo evolutivo. Movimentos têm seus auges e declínios e, como não poderia deixar de ser, a Pop Art também não foge desse conceito.
Sempre que se pensa em Pop Art, remete-se ao culto das grandes personalidades, à iconoclastia explícita, ao excesso de cores que preenchem uma tela. Sobre outra carruagem, Jasper Johns segue os trilhos do pop em um caminho diferenciado de seus outros representantes – é expressado através de sua indignação com uma nação que, a seu ver, segue um rumo decadente: os Estados Unidos.
Talvez a figura de Johns seja facilmente distinguida de artistas pop, como Roy Liechtenstein e Andy Warhol, por seguir uma linha mais ideológica em suas telas, assemelhando-se ao neo-dadaísmo. Entretanto, a forma como delineia suas pinceladas, a utilização de cores chamativas e a indubitável iconoclastia registrada em suas obras não deixa dúvidas: Jasper Johns faz uso da Pop Art.
Nascido no ano de 1930 em Augusta, no estado da Geórgia (EUA), iniciou sua carreira artística produzindo telas comerciais em Nova Iorque. Sua grande obra, A Bandeira (1954), reflete a indignação com o caminho que a sociedade norte-americana está trilhando, motivado por um grande amor a sua nação. Toda essa ‘agressão’ contra os conterrâneos é fortemente representada com as listras rugosas da obra, indicando peso e densidade, como um soco no estômago de cada cidadão americano. Johns faz o uso da bandeira dos Estados Unidos mais uma vez em 3 Bandeiras, indicando a escrachada cultura da repetição, da homogeneidade e do falso coletivo imaginário que foram enraizados em seu país.
Agora, pergunta-se: por que tanta aversão? Por que criticar rigidamente o país que gosta tanto?
A cultura de massa, segundo sua ideologia, provocou uma estagnação social que imobilizou o manifesto popular contra um sistema dominador. Suas excessivas repetições fazem analogia ao gosto da população que culturalmente se sustenta dos arquétipos, presentes em filmes hollywoodianos, talk shows e seriados televisivos.
A obra foi o pontapé inicial para um infortúnio que ganharia mais destaque posteriormente. O famigerado american way of life (padrão americano de vida), onde o consumo e a negligência social ditam o cotidiano dos americanos, começa a incomodar o artista. E, para cutucar as onças com vara curta, Target desmistifica a utopia crescente do Capitão América, ícone pop da era George Bush pai. A obra é um escudo redondo, similar a um alvo, representando a visão dos espectadores alienados com a intensa propagação da cultura de massa. Ao observá-la, percebe-se sua grande aproximação com o Movimento Dadá, que tinha sua grande figura em Marcel Duchamp.
O pop de Johns é tão eclético quanto expressivo. Outro grande movimento que inspirou o artista foi o expressionismo abstrato. Em False Start (1959), sua leitura toma um sentido mais estereotipado, com cores flamejantes que substancialmente remetem à idéia de banalização do movimento de Wassily Kandinsky.
Pouco tempo depois, a loucura parece predominar em suas obras. Fools House (1962), uma vassoura pendurada na tela com borrões azuis, demonstra a aproximação da arte com a contracultura que começara a se instalar nos Estados Unidos. Os críticos da época afirmaram que era o momento em que a pintura desceu até a sarjeta para encontrar uma identificação com a grande expansão do rock´n roll de Elvis Presley.
Outra diferenciação encontrada na arte de Jasper Johns é o rompimento com o estigma abstrato de Warhol e Liechtenstein. Nele, o concreto e o artístico partem de algo que recusa a figuração por si mesma. Não é a toa que suas obras são representadas por formas geométricas como círculos, números, alvos e até mesmo pela bandeira dos EUA.
Sendo assim, Johns reduz sua pintura a operações mecanizadas, utilizando de exercícios manuais separados de regras padronizadas e técnicas pré-estabelecidas. Ele foi um artista que procurou reinventar a si próprio e dar um novo sentido à expressão artística, sem muitas pretensões revolucionárias.
A incômoda posição de receptor da obra ao tentar enxergar coisas muito além do que elas representam concretamente, fazem de Jasper Johns um artista único e, sem dúvida, provocador. Se algum dia existiu um manual de como fazer Pop Art, pode ter certeza que ele não o leu. Porém, mesmo assim conseguiu integrar-se ao movimento - do seu jeito, é claro.
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A cultura de massa, segundo sua ideologia, provocou uma estagnação social que imobilizou o manifesto popular contra um sistema dominador. Suas excessivas repetições fazem analogia ao gosto da população que culturalmente se sustenta dos arquétipos, presentes em filmes hollywoodianos, talk shows e seriados televisivos.
A obra foi o pontapé inicial para um infortúnio que ganharia mais destaque posteriormente. O famigerado american way of life (padrão americano de vida), onde o consumo e a negligência social ditam o cotidiano dos americanos, começa a incomodar o artista. E, para cutucar as onças com vara curta, Target desmistifica a utopia crescente do Capitão América, ícone pop da era George Bush pai. A obra é um escudo redondo, similar a um alvo, representando a visão dos espectadores alienados com a intensa propagação da cultura de massa. Ao observá-la, percebe-se sua grande aproximação com o Movimento Dadá, que tinha sua grande figura em Marcel Duchamp.
O pop de Johns é tão eclético quanto expressivo. Outro grande movimento que inspirou o artista foi o expressionismo abstrato. Em False Start (1959), sua leitura toma um sentido mais estereotipado, com cores flamejantes que substancialmente remetem à idéia de banalização do movimento de Wassily Kandinsky.
Pouco tempo depois, a loucura parece predominar em suas obras. Fools House (1962), uma vassoura pendurada na tela com borrões azuis, demonstra a aproximação da arte com a contracultura que começara a se instalar nos Estados Unidos. Os críticos da época afirmaram que era o momento em que a pintura desceu até a sarjeta para encontrar uma identificação com a grande expansão do rock´n roll de Elvis Presley.
Outra diferenciação encontrada na arte de Jasper Johns é o rompimento com o estigma abstrato de Warhol e Liechtenstein. Nele, o concreto e o artístico partem de algo que recusa a figuração por si mesma. Não é a toa que suas obras são representadas por formas geométricas como círculos, números, alvos e até mesmo pela bandeira dos EUA.
Sendo assim, Johns reduz sua pintura a operações mecanizadas, utilizando de exercícios manuais separados de regras padronizadas e técnicas pré-estabelecidas. Ele foi um artista que procurou reinventar a si próprio e dar um novo sentido à expressão artística, sem muitas pretensões revolucionárias.
A incômoda posição de receptor da obra ao tentar enxergar coisas muito além do que elas representam concretamente, fazem de Jasper Johns um artista único e, sem dúvida, provocador. Se algum dia existiu um manual de como fazer Pop Art, pode ter certeza que ele não o leu. Porém, mesmo assim conseguiu integrar-se ao movimento - do seu jeito, é claro.
Abaixo, as obras False Start e Fool´s House
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