Há tempos não beijava uma garota. Quando lhe dava na telha em ir à faculdade, ficava embasbacado com as beldades que via circular naquele pátio fétido, mas bem ilustre.
Das opções que a vida lhe deu, aproveitou ao máximo sua capacidade intelectual para se dar bem no âmbito acadêmico. Mal sabia ele que essa trajetória era tão trivial, que lhe tirava o poder de compreensão das ignorâncias alheias. Por exemplo, para ele era inaceitável o uso incorreto da língua portuguesa para descrever ações corriqueiras - Fui lá na pracinha e trombei uma galera meio sinistra que não parava de secar - Deus, como isso o incomodava!
Não era nerd. A sociedade tem um terrível costume de assimilar algumas radicalidades às primeiras impressões que dizem ter, e criam estereótipos estúpidos para marcar tal pessoa: - Ah, o José? Aquele CDF?
Por incrível que pareça, não era assim com Valêncio. O nome podia ser um pouco diferente, mas ele era tão carismático e adaptável, que conquistava a amizade de qualquer um que com ele perdesse míseros dois minutos.
Aproximava-se a ele o desespero de estar solteiro no Dia dos Namorados, aquela assombrosa comemoração que incentiva a futilidade. Vale lembrar que ele tomava como verdade muitos dos autores que faziam parte de sua biblioteca mental, como Marx, Marcuse e Turgueniev. Daí a pensar que o dia 12 de junho não passava de data comercial para encher os cofres do mercado foi um salto.
Mas algo não deixava de martelar:
- Beleza, não estou nem aí pro sistema de datas, fod..., mas seria ótimo ficar agarradinho em um sofá frente a uma tela improvisada de cinema...
Essa visão o exasperava cada vez mais, visto que nunca ocorreu de estar acompanhado em uma data comemorativa como esta. Beirava a loucura, ultrapassava os limites da inveja ver amigos e conhecidos na tão confortante situação de estarem presos aos braços de um corpo feminino. E como passar batido diante de tudo isso?
- Beber não adianta, TV é uma merda... quem sabe eu escreva alguma baboseira na internet?
Foi o que fez. Sem filosofias, sem moralismo, sem ideias eficazes, espalhou a opinião de que o sistema é perpétuo e que uma cabeça não muda o comportamento de milhões.
Assim pensou e incluiu no seu vocabulário uma palavra que teve que aceitar: conformismo. E mandou um cartão de Feliz Dia dos Namorados para os amigos.
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8 Atemporalizados:
Mulek, você tem o dom!
adorei o texto, diz muito do que eu penso!
Bj
re-re-reafirmando... você escreve muito bem... dá gosto ler teu blog :)
ahhh! e pensando pelo lado otimista da coisa, o dia dos namorados é uma data divertida... quem tem um par terá romance e quem não tem pode se divertir loucamente com os amigos solteiros também. hauahauaua
afinal pra quem não tem nada, a metade é o dobro? :P
beijocas ^^
Nádia, é vc??
ahhahaha, bel-prazer receber um comentário teu nesta página!
O Dia dos Namorados salienta a necessidade de estar junto a uma pessoa não pelo dia que representa, mas por uma pressão social implícita - tipo, e aê, dia 12/6, tu vai ficar só?
O lance é relevar, deixar de lado, ou simplesmente aceitar!
Lu,
É uma boa alternativa....pensando bem, até melhor do que comemorar o dia mesmo com uma namorada...
Porque você pode sair com os solteiros e passar a data com mais de uma companheira!
Aí quita!
hehheheh
Beijão, valeu pela visita!
Ahhh! claro que ter um namorado nessa época é legal, mas depois de 7 anos namorando no dia dos namorados, tô até feliz de fazer o que eu tô afim! hahaha :T
Pena que 90% das minhas amigas tão namorando agora! :P
Mas sem demagogias, uma noite bem curtida com os amigos vale ouro!!
E amigos depois de irmãos e cúmplices, estão unidos pela vida toda... :D
Ui, até me emocionei agora! :~
hauahauahaua
beiiijo. :)
Pô Lu,
Já que vc se emocionou tanto, peço que saia com os amigos o mais rápido possível
hehehhe
Bjo!
Tiago,
e eu, crente que ia rolar um "romance carioca" e até agora, nada!
Márcia,
Do Rio, fique só com as praias e a beleza natural.
Porque os cariocas...
rsrs!
Brincadeira: eu adoro aquele povo extrovertido e receptivo!
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