Como um formando em jornalismo, tenho que me pronunciar sobre a derrocada do diploma para exercício da profissão. Por uma lavada de 8 a 1, permaneceram os votos a favor da queda da exigência, em votação no Supremo Tribunal Federal (leia aqui a respeito).
Diferente da maioria dos meus 'colegas universitários', sempre fui a favor da queda por motivos que apontarei. Entretanto, para que a prática dessas hipóteses tenham sucesso, é necessário que os novos formandos enxerguem a formação de jornalismo como algo imprescindível para o exercício da profissão.
A queda do diploma não significará que qualquer pelego que meta a fuça no ofício seja capaz de substituir um profissional formado. Pelo contrário - a partir daí os meios de comunicação, que querem manter (ou superar) o nível de qualidade de sua publicação, continuarão exigindo do subalterno uma competência que assegure a credibilidade do jornal/revista/portal/TV/rádio em questão.
Uma outra possível boa notícia é que, com a derrocada do diploma, os profissionais exigirão mais de si próprios. Aquele velho dilema de que ninguém é insubstituível toma peso maior desta vez. Não se vê tantas palestras, cursos e congressos analisando o declínio vigente do jornalismo? Cada vez mais não se exige um preparo maior, menos tempo para preparação das matérias, principalmente com o surgimento da internet e os novos meios de comunicação?
Para manter o ofício, o velho arroz com feijão poderá dar lugar a um esforço mais profícuo, o que, consequentemente, renderá melhores reportagens, mais atenção com os sucessivos erros que infelizmente vemos aos milhões na imprensa em geral.
PAPEL DO UNIVERSITÁRIO
Pessoalmente, como aluno de jornalismo, sempre associei esta profissão à arrogância, ao pseudo-intelectualismo e à ganância de querer estar sempre no ápice. O fato de saber o que acontece no mundo não te torna uma ferramenta mecânica poderosa para subjugar aquele que não tem acesso à informação. Além do mais, muitos destes elevam à máxima o discurso de que informação é poder. Agora, que raios de poder é esse que se mantém nas dependências de meia dúzia de engravatados? Virou fantoche?
Sob este ângulo, deve-se analisar que o preconceito com o profissional não formado dentro de uma redação pode ser uma realidade. Não sou a favor do despreparo do formador de opinião para formar opinião. Muito pelo contrário: apenas vejo que muitos jornalistas, com diploma em mãos (e olha que de boas universidades hein!), também não têm preparo para falar de economia, agronegócios, ciência e demais assuntos que exigem uma formação específica.
O erro que pode ser cometido pela grande imprensa é crer que profissionais especializados podem substituir a função de jornalistas. Aqui vale reiterar que: o papel daquele que redige para seu público é tornar acessível a informação captada através dos especialistas e da opinião pública, contextualizar a informação e facilitar sua linguagem para que o leitor daquelas linhas (ou espectador daquela mensagem) sinta-se interessado em participar dos debates acerca do assunto. Informação não é poder?
Como estudante, sei que o mercado é bem elitizado: há uma reserva de mercado concentradíssima. Aquele velho lenga-lenga do Q.I. (Quem Indica) é tão corriqueiro no âmbito jornalístico, que algumas empresas que delegam a função do assessor de imprensa devem estar com o sorriso de orelha a orelha com a derrocada.
Por um jornalismo de qualidade, levando em conta a conscientização daqueles que exercem a profissão e contratam, é uma boa notícia. Qualquer um pode fazer uso das técnicas de redação para compor material. O que pode pesar agora é a qualidade. As vantagens da não exigência são inúmeras - basta confiar no seu taco e refletir sobre o seu trabalho, objetivando melhorar sempre, que seu lugar ao sol estará garantido.
Com isso, o tal jornalista preguiçoso - termo para definir aquele que entrega a matéria para cumprir agenda - pode se esvair. E é aí que entra o profissional competente (diplomado ou não) e mostra que um caminho para a melhora do conteúdo jornalístico que se vê por aí pode ser possível.
E A UNIVERSIDADE, COMO FICA?
Aqui é que o termo qualidade deve se superar. Ao contrário de pregar o descontentamento geral com o mercado de trabalho, deve trazer uma formação geral e específica mais aplicada, para que o estudante que sair de lá esteja atento às novas especificidades que surgem no jornalismo.
Ao invés de uma formação mais técnica - uma realidade intrínseca às instituições que se embelezam de equipamentos tecnológicos e formam um ser humano vazio de conteúdo teórico -, o envolvimento maior com as complexidades do mundo deverá ser priorizado, o que inclui: formar um estudante crítico, que saiba dissociar o joio do trigo e seja capaz de argumentar sobre a realidade vivenciada; elevar o esforço do estudante para se interessar em disciplinas humanas, como Filosofia, História, Geografia, Política, etc; e, principalmente, tirá-lo da preguiça, da passividade de trazer trabalhos pífios, como entrevistar o vizinho para falar sobre política nacional. Noutras palavras, fazê-lo correr atrás do seu, tirando a bunda da cadeira para que não seja substituído por um outro diplomado - ou não.
A universidade deve propagar e intensificar os debates acerca do jornalismo, trazendo uma discussão mais madura que ultrapasse os limites da demagogia e do senso comum.
Se nenhuma destas mudanças citadas forem levadas à prática, aqui dou o veredicto: estudantes, não se preocupem, vocês não serão substituídos por um profissional não diplomado. Quem irá investir em quem não tem conhecimento sobre o ofício?
Essa é uma realidade que espero que mude. Um jornalismo de qualidade ainda pode contemplar o debate e despertar o interesse público em agarrar-se à informação.
A derrocada do diploma é o começo desta mudança. Agora, o que virá daqui pra frente, ainda é obscuro.
2 Atemporalizados:
"...Não sou a favor do despreparo do formador de opinião para formar opinião, muito pelo contrário: apenas vejo que muitos jornalistas, com diploma em mãos (e olha que de boas universidades hein!), também não têm preparo para falar de economia, agronegócios, ciência e demais assuntos que exigem uma formação específica..."
Imagine então quando NÃO se tem professores com preparo pra falar de economia,agronegócios, ciencias e demais assuntos!..rs
Isso é o mais terrível!
hahaha
Mais NÃO sou á favor, da LEI, por motivos de prática maior!
As filosofias e ideologias de "mostrar trabalho agora" são vãs em pleno aos conchavos humanos do séc XXI!
nois!
Vitão,
Essa é a chance do peso da qualidade entrar em vigor. Quantas vezes já nos deparamos com matérias de merda, que tem mais erros do que redação de ensino médio!
Até mesmo na faculdade, vemos um monte de ignorantes que não sabem nem escrever se formando.
Outra coisa: Publicidade & Propaganda não tem obrigatoriedade do diploma. Me diz: contratam profissional que não o tem?
É só questão de priorizar a qualidade, independente da formação. O diploma é bosta perto do que uma mente é capaz.
Valeu pelo coment!!!
Abraço!
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