A História se repete, só que em outro espaço geográfico. Honduras, um dos países mais pobres da América Latina, sofreu um golpe militar de Estado no dia 28 de junho, quando o presidente de cunho esquerdista, Manuel Zelaya Rosales, foi sequestrado pelo Exército e exilado para a Costa Rica. De maneira parecida, nosso país rabiscou essas mesmas linhas tortas em 1964, quando João Goulart, com suas ideias reformistas, foi exonerado do cargo da Presidência da República pela direita militar.
Ontem, o governo hondurenho presidido por Roberto Micheletti decretou Estado de Sítio - situação em que o país, censurado, impõe toque de recolher e controla, de maneira violenta, as repressões dos dissidentes ao governo. Isso, menos de cinco dias após a tomada do poder.
Apavora os representantes da direita de Honduras a crescente onda esquerdista na América Latina. A exemplo da Venezuela de Hugo Chávez, líderes do porte de Rafael Côrrea e Evo Morales vêm demonstrando interesse em perpetuarem-se na liderança governamental de suas respectivas nações, criando referendos que permitam a reeleição sucessiva. Inclusive, essa foi a arma dos militares para deporem Zelaya.
Honduras é considerado o segundo país mais pobre da América Central. Segundo dados do Programa Especial Para La Seguridad Alimentaria de Centroamérica (PESA) (divulgado pelo blog de Idelber Avelar), 56,8% da população hondurenha é indigente. De um total de 7,79 milhões de habitantes, 79,7% são considerados pobres.
Eleito em 2005 por uma ala centro-direita, Zelaya causou temor aos conservadores por manter uma relação política simpatizante com Hugo Chávez. Todavia, não contavam com o apoio internacional que o presidente expulso de seu país receberia de toda a América, inclusive do presidente dos EUA Barack Obama.
Mesmo assim, Micheletti não dá o braço a torcer:
"Não podemos chegar a um acordo porque há ordens aqui para capturar o ex-presidente (Manuel) Zelaya por crimes cometidos quando era um oficial", disse Micheletti em entrevista concedida em seu escritório no quase vazio palácio presidencial, atualmente cercado por vários soldados. "Ele nunca voltará ao poder", disse Micheletti sobre Zelaya. "Ele pode voltar após resolver seus problemas (legais). Ele poderia aspirar ser um político no Congresso ou um prefeito de sua cidade", sugeriu Micheletti.
O embaixador brasileiro em Honduras, Brian Michael Fraser Neele, foi ordenado pelo Itamaraty a permanecer no Brasil. Neele estava em férias no momento do golpe. Obama afirmou não aceitar a legitimação de um governo autoproclamado pela força. A União Europeia também repudia o Golpe. A OEA (Organização dos Estados Americanos) ameaçou expulsar Honduras do bloco, assim como fizeram com Cuba em 1962, quando Fidel Castro derrubou a ditadura de Fulgêncio Baptista.
Só que a História é alvo de si mesma. Se antes o mundo estava muito mais suscetível aos golpes direitistas, hoje a realidade aparenta ser diferente. Das muitas hipóteses que podem ser citadas, três fatos interferem de maneira significativa para que o período sombrio que assolou a América Latina nos anos 70-80 tenha grandes chances de não se repetir:
Só que a História é alvo de si mesma. Se antes o mundo estava muito mais suscetível aos golpes direitistas, hoje a realidade aparenta ser diferente. Das muitas hipóteses que podem ser citadas, três fatos interferem de maneira significativa para que o período sombrio que assolou a América Latina nos anos 70-80 tenha grandes chances de não se repetir:
- A experiência de vivenciar ditaduras e 'ditabrandas' corrosivas para a democracia. Só na Argentina, entre os anos de 1976 e 1983, o cala-a-boca mais cruel da América Latina, imposto pelo ditador Jorge R. Videla, assassinou mais de 30 mil civis entre crianças, idosos e revolucionários. No Chile, Augusto Pinochet também aniquilou por volta de 25 mil entre os anos 1973-1990. O Brasil, apesar de não apresentar um elevado número de mortos como Chile/Argentina (o que não o torna uma 'ditabranda'), viveu o período mais longo sob o espectro da repressão: de 1964 a 1985.
- A globalização e o forte impacto das redes sociais. Por mais que o mundo disponha de informação abalizada da imprensa, agora reduzem-se as chances da grande imprensa (tal como a Globo, em 1989) patrocinarem Golpes de Estado e elegerem os candidatos à sua imagem e semelhança. Com a disseminação do Facebook e, principalmente, do Twitter, o povo que está presenciando a tomada do poder tem liberdade de expressão para clamar e denunciar as tiranias que envolvem seu país. O boicote das eleições iranianas é um grande exemplo.
- Com Barack Obama no poder, podem criticar, vociferar, estardalhar... mas a realidade muda completamente. Se antes os Estados Unidos tinha um presidente direitista e beligerante, com o intuito de espalhar ideologia consumista e homogeneizar a cultura americana, agora a maior potência mundial é governada por um líder que preza as relações políticas com a América Latina, tem um projeto econômico e social que envolve o globo como um todo e repudiou (algo inédito para um país que apoiou as ditaduras latinoamericanas na década de 60-90) o Golpe de Estado dos militares em Honduras.
Ou seja, teoricamente tudo está rolando em prol para que o presidente hondurenho deposto volte a exercer o cargo. Mas, nem sempre a intervenção de outros Estados pode mudar um regime vigente. ONU, EUA, Brasil, Europa, América Latina, todos podem ser contra, mas isso não quer dizer que a pressão mundial é totalmente eficaz em destituir do poder os tiranos instalados.
Por mais irônico que pareça, componentes da burguesia de Honduras e parte da imprensa estrangeira - da qual a brasileira se inclui - demonstram interesse na ditadura de Micheletti. O jornal El País, analisando o estado de sítio no país, conversou com um advogado trabalhista hondurenho como fonte da reportagem:
O Jornal da Globo e o Portal Uol publicaram a errônea notícia de que a consulta presidencial feita no domingo em Honduras era sobre o segundo mandato. Na verdade, era uma consulta sobre uma Assembleia Constituinte que tornasse viável o referendo popular para a quebra da Constituição, que permitia apenas um mandato por governante. Essa informação foi coletada, apurada e sentenciada por @iavelar, que está espalhando notícias acerca de Honduras através do Twitter. (Recomendo que sigam-no.)
Além do mais, os hondurenhos dependem dos Estados Unidos para que sua pequena economia gire. Com base na agricultura, cultivando café e banana, os ianques respondem por 67% das exportações e 52% das importações do país, o que garante um Produto Interno Bruto (PIB) de US$13,78 bilhões, tomando como base os dados da CIA World Factbook.
Portanto, Obama pode muito bem cortar as relações com um país que vive nos espectros da ditadura e comprometer toda a economia do país. Lá, as pessoas já não vivem bem. A imprensa insiste em noticiar que são poucos os manifestantes pedindo a volta de Zelaya, que também não garantiu muitos avanços em Honduras. Todavia, estudantes e revolucionários vão às ruas, sim, protestar contra essa imposição autoritária. Podem ou não ser simpatizantes do governo Zelaya, mas reinvidicam a favor da democracia, que não pode ser obstruída dessa maneira.
Com o passar do tempo, isso pode ou não reforçar a figura política de Zelaya no contexto internacional. Mas isso nem é a preocupação. O que se põe na balança é: como vai ficar o povo hondurenho?
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Por mais irônico que pareça, componentes da burguesia de Honduras e parte da imprensa estrangeira - da qual a brasileira se inclui - demonstram interesse na ditadura de Micheletti. O jornal El País, analisando o estado de sítio no país, conversou com um advogado trabalhista hondurenho como fonte da reportagem:
"No necesitan recortar las libertades, porque el país no está ardiendo y las manifestaciones contrarias al golpe no son ni muchas ni muy numerosas", explica Oswaldo, un abogado laboralista, "pero se ve que Micheletti no está seguro de los apoyos con los que cuenta y quiere amedrentar a la población".
O Jornal da Globo e o Portal Uol publicaram a errônea notícia de que a consulta presidencial feita no domingo em Honduras era sobre o segundo mandato. Na verdade, era uma consulta sobre uma Assembleia Constituinte que tornasse viável o referendo popular para a quebra da Constituição, que permitia apenas um mandato por governante. Essa informação foi coletada, apurada e sentenciada por @iavelar, que está espalhando notícias acerca de Honduras através do Twitter. (Recomendo que sigam-no.)
Zelaya, cujo apoio popular havia caído para níveis de 30% em meio à crise econômica, foi deposto quando promovia uma consulta não-vinculante sobre a reeleição presidencial. Essa consulta tinha a oposição da Justiça, dos militares e de setores do empresariados, dos políticos e da Igreja.Pelo andar da carruagem, Micheletti não pretende dar o assento presidencial de volta à Zelaya. O ditador apresentou à Interpol a acusação de que o presidente deposto usurpou funções, abusou de autoridade e traiu a pátria. Para ele, essa seria a condenável justificativa para que o golpe dos militares seja legitimado. Honduras fica atrás apenas da Guatemala no ranking dos países mais pobres da América Central. A renda per capita média para cada cidadão, segundo dados do PESA, é de 2,876. A Guatemala apresenta quase o dobro: uma média de 4,313.
Além do mais, os hondurenhos dependem dos Estados Unidos para que sua pequena economia gire. Com base na agricultura, cultivando café e banana, os ianques respondem por 67% das exportações e 52% das importações do país, o que garante um Produto Interno Bruto (PIB) de US$13,78 bilhões, tomando como base os dados da CIA World Factbook.
Portanto, Obama pode muito bem cortar as relações com um país que vive nos espectros da ditadura e comprometer toda a economia do país. Lá, as pessoas já não vivem bem. A imprensa insiste em noticiar que são poucos os manifestantes pedindo a volta de Zelaya, que também não garantiu muitos avanços em Honduras. Todavia, estudantes e revolucionários vão às ruas, sim, protestar contra essa imposição autoritária. Podem ou não ser simpatizantes do governo Zelaya, mas reinvidicam a favor da democracia, que não pode ser obstruída dessa maneira.
Com o passar do tempo, isso pode ou não reforçar a figura política de Zelaya no contexto internacional. Mas isso nem é a preocupação. O que se põe na balança é: como vai ficar o povo hondurenho?
11 Atemporalizados:
Excelente post, camarada!
Sim,,, um excelente post...
Abraços e revolucionárias invenções!
IA....
DERRUBARAM O PRESIDENTE ZELAYA POR QUE ELE IA.... SABE DEUS IA O QUE. MAS DIZEM QUE ELE IA..... E POR QUE ELE IA... DERRUBARAM ELE, BELO MOTIVO PARA DERRUBAR UM PRESIDENTE ELEITO DEMOCRATICAMENTE, SÓ POR QUE ELE IA...
ELE FOI DEPOSTO POR QUE ELE IA...
ELES ACUSAM ELE DE CHAVISMO, POR QUE ELE IA...
ELES EXPULSARAM ELE DO PAÍS, POR QUE ELE IA...
ELE TEM 18 ACUSAÇÕES NA JUSTIÇA, POR QUE ELE IA...
ELES (GOLPISTAS) VÃO PRENDE-LO SE ELE VOLTAR, POR QUE ELE IA...
Rafael,
Obrigado, volte sempre!
Alex,
Acho que só o fato de inventar já é uma revolução danada! Agora se é para o bem ou para o mal...
Caetano,
São justamente essas suposições mesmo que fizeram os militares tirarem Zelaya no poder. Eles têm costume de ser bem categóricos né... contradição essa dúvida!
Mas, juro que fiquei curioso pra saber o que é que Zelaya ia fazer agora...
uma coisa é certa esse IA..... deu um problema pro zelaya que ta complicado de resolver, "se o IA ja deu problema imagine então se FOSSE....."
vamos ver o desenrolar da história segundo ele (zelaya), amanhã (domingo) ele chega a capital tegucigalpa acompanhado de alguns presidentes.
no começo da semana ele disse que IA.. (novamente o IA) voltar na quinta mas resolveu esperar, vamos ver o que acontece amanha com a volta dele.
TIAGO
UMA COISA EU SEI, ESSE TAL DE IA.... É MUITO MISTERIOSO NÉM OS PROPRIOS GOLPISTAS SABEM.
Caetano,
Eu tô achando que Zelaya IA se ferrar alguma hora no governo de Honduras, mas os militares acabaram antecipando...
Se o IA já é uma dúvida, imagina o que VAI rolar ainda...
tiago
com certeza mas agora to achando estranho o comportamento dos eua, eles devem ter algo a ver com isso honduras tem um comercio importação e exportação direto com os eua. sem falar na area militar honduras tem base americana o proprio general que lidera este golpe foi aluno na escola militar das americas que forma ditadores, eu quero ver o que vai acontecer quando zelaya voltar, (to curioso).
hugo chaves disse que IA usar a força militar se zelaia num fosse restituido ao cargo, hugo chaves tbm deve ta doido pra testar aqueles jatos russo que ele comprou rsrsrsrs.
essa história ta ficando interessante tem analista jurando de pé junto que isso foi armado (os eua sabiam e deram apoio) e que é apenas o começo.
Caetano,
Óbvio que várias teorias da conspiração rolam nessa problemática de Honduras...
Mas é como eu estava comentando com o Idelber: seja o que for, quem vai pagar muito caro por tudo isso é o povo hondurenho.
Vejo especialistas, diplomatas e governantes despachando teorias, hipóteses e estratégias, mas não vi nenhum material que mostre o que o cidadão comum está sentindo nesse momento.
Eu acho que realmente está faltando uma Eliane Brum, um Caco Barcellos ou até um Gay Talese para investigar isso, pra conversar com o cidadão hondurenho comum, a dona de casa, o faxineiro, o vendedor ambulante pra ver o que eles pensam.
Do contrário, fica uma disputa de ideologias patrocinada - ou não - pelas grandes nações mundiais,
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