PROTO-PUNK - MC5 - KICK OUT THE JAMS (1969)
“Qual é a desses roqueiros enroladores? Se ao menos prestassem atenção em música de verdade, como Sun Ra e John Coltrane…”, John Sinclair publicava na coluna de um jornal underground de Detroit.
“Não me conformei com aquilo, sabe? Fui até a casa dele e disse: ‘Hey cara, que história é essa? Nós também estamos na comunidade e sabemos quem é John Coltrane. Precisamos de um lugar para ensaiar e será que não daria para usar o Artist Workshop também?’ Então a gente fumou um baseado e ficou tudo numa boa”, revela o guitarrista Wayne Kramer, sobre o início da carreira de Motor City Five, mais conhecidos como MC5.
Sinclair, que engoliria os batráquios de sua coluna, só aceitou ser empresário da banda com uma condição: que eles tentassem se inserir naquela onda hippie protestando contra a política americana. Em outras palavras, queria ver o MC5 ser reconhecido pela imprensa como uma banda revolucionária, para conseguir um contrato gordo com alguma grande gravadora.
Porém, não foi bem isso que aconteceu. Eles até conseguiram tocar diante de uma multidão ensandecida no Big Ballroom, após Danny Fields assinar um contrato com eles como banda primária e os Stooges como banda secundária (ou seja, pagar mais pelo MC5 que pelos Stooges) resultando no primeiro álbum, Kick Out The Jams.
O álbum é uma verdadeira afronta ao sistema político, recheado de instigações protestantes ao então presidente Lyndon Johnson. Os vocais de Rob Tyner que introduzem a faixa-título denotam a real intenção dos integrantes: “Right now, it’s time to… Kick out the jams, motherfuckers!” (“Nesse momento é hora de… mandar tudo pro alto, seus filhos-da-puta!”). A partir daí, é uma porrada atrás da outra. O estilo ‘slide guitar’ de Fred ‘Sonic’ Smith - falecido ex-marido de Patti Smith e inspiração declarada não só para o nome da banda Sonic Youth como para inúmeros guitarristas – e a devastação empolgante de Wayne Kramer nos solos de sua guitarra trariam o tom nervoso de canções como “Come Together”,"Borderline” e “Starship”.
Só que o declínio estava mais próximo do que parecia para Kramer, Tyner, ‘Sonic’, o baixista Michael Davis e o baterista Dennis Thompson. Em um desses festivais, a censura resolveu atacar os imponentes e invadiram o Festival of Life, que estava próximo à Convenção Democrática de Chicago. Loucos de haxixe, os integrantes e a plateia foram agredidos pelos policiais e toda aquela festança teve que ter um fim.
Fim? Não era bem isso que o MC5 tinha em mente. Toda aquela devastação serviu de inspiração para Wayne Kramer. “A gente tava tocando ‘Starship’ e estava naquele clima espacial da música, falando sobre a guerra e o ser-humano-máquina-de-cortar-grama, quando os helicópteros da polícia de Chicago começaram a dar rasante. Eles vinham em cima de nós e o som do helicóptero combinava com o que eu estava tocando na guitarra. Uau! Perfeito cara!”, admite o exímio guitarrista. “Aquela coisa toda fez absoluto sentido pra mim”.
Impossível mensurar a loucura – uma viagem totalmente alucinante mas, diga lá, não tem nada a ver com a mal rotulada cena hippie.
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“Qual é a desses roqueiros enroladores? Se ao menos prestassem atenção em música de verdade, como Sun Ra e John Coltrane…”, John Sinclair publicava na coluna de um jornal underground de Detroit.
“Não me conformei com aquilo, sabe? Fui até a casa dele e disse: ‘Hey cara, que história é essa? Nós também estamos na comunidade e sabemos quem é John Coltrane. Precisamos de um lugar para ensaiar e será que não daria para usar o Artist Workshop também?’ Então a gente fumou um baseado e ficou tudo numa boa”, revela o guitarrista Wayne Kramer, sobre o início da carreira de Motor City Five, mais conhecidos como MC5.
Sinclair, que engoliria os batráquios de sua coluna, só aceitou ser empresário da banda com uma condição: que eles tentassem se inserir naquela onda hippie protestando contra a política americana. Em outras palavras, queria ver o MC5 ser reconhecido pela imprensa como uma banda revolucionária, para conseguir um contrato gordo com alguma grande gravadora.
Porém, não foi bem isso que aconteceu. Eles até conseguiram tocar diante de uma multidão ensandecida no Big Ballroom, após Danny Fields assinar um contrato com eles como banda primária e os Stooges como banda secundária (ou seja, pagar mais pelo MC5 que pelos Stooges) resultando no primeiro álbum, Kick Out The Jams.
O álbum é uma verdadeira afronta ao sistema político, recheado de instigações protestantes ao então presidente Lyndon Johnson. Os vocais de Rob Tyner que introduzem a faixa-título denotam a real intenção dos integrantes: “Right now, it’s time to… Kick out the jams, motherfuckers!” (“Nesse momento é hora de… mandar tudo pro alto, seus filhos-da-puta!”). A partir daí, é uma porrada atrás da outra. O estilo ‘slide guitar’ de Fred ‘Sonic’ Smith - falecido ex-marido de Patti Smith e inspiração declarada não só para o nome da banda Sonic Youth como para inúmeros guitarristas – e a devastação empolgante de Wayne Kramer nos solos de sua guitarra trariam o tom nervoso de canções como “Come Together”,"Borderline” e “Starship”.
Só que o declínio estava mais próximo do que parecia para Kramer, Tyner, ‘Sonic’, o baixista Michael Davis e o baterista Dennis Thompson. Em um desses festivais, a censura resolveu atacar os imponentes e invadiram o Festival of Life, que estava próximo à Convenção Democrática de Chicago. Loucos de haxixe, os integrantes e a plateia foram agredidos pelos policiais e toda aquela festança teve que ter um fim.
Fim? Não era bem isso que o MC5 tinha em mente. Toda aquela devastação serviu de inspiração para Wayne Kramer. “A gente tava tocando ‘Starship’ e estava naquele clima espacial da música, falando sobre a guerra e o ser-humano-máquina-de-cortar-grama, quando os helicópteros da polícia de Chicago começaram a dar rasante. Eles vinham em cima de nós e o som do helicóptero combinava com o que eu estava tocando na guitarra. Uau! Perfeito cara!”, admite o exímio guitarrista. “Aquela coisa toda fez absoluto sentido pra mim”.
Impossível mensurar a loucura – uma viagem totalmente alucinante mas, diga lá, não tem nada a ver com a mal rotulada cena hippie.
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