SHOW DOS MÓVEIS COLONIAIS DE ACAJU
Não basta encher o palco com vários instrumentistas exímios; tem que alcançar a sincronia sem deixar de mão o improviso. E é isso que a galera da big band Móveis Coloniais de Acaju vem aprimorando através de seus shows.
Confirmado para tocar para um público de 250 pessoas no Itaú Cultural de São Paulo, a surpreendente onipresença dos fãs acabaram alterando todos os planos na noite do dia 6 de março para André Gonzales (voz), BC (guitarra), Beto Mejía (flauta transversal),Eduardo Borém (teclados), Esdras Nogueira (sax barítono), Fábio Pedrosa (baixo), Paulo Rogério (sax tenor), Renato Rojas (bateria), Xande Bursztyn (trombone) e a aplaudida performance instrumental no trombone de Bocato, o convidado da banda (ufa!). Para atender a uma demanda de mais de 600 fãs sedentos pela euforia de hits como "Copacabana" e "Aluga-se e Vende", os Móveis tiveram que fazer pelo menos 3 apresentações para revezar o público.
O escritor dessas linhas presenciou a segunda apresentação que foi, no mínimo, repleta de calor (literalmente, pois lá dentro estava um forno) e empolgação tanto por parte dos ouvintes, quanto por parte dos integrantes. A explosão iniciou-se com a primeira faixa de Idem (2005), "Perca Peso", com uma parcial fidelidade à gravação de estúdio. Como todo início de show, os Móveis aproveitaram para divulgar alguns dos novos trabalhos que fazem parte do próximo álbum da banda, C_mpl_te (finalizado duas horas antes das apresentações); como em "O Tempo", uma balada que inicia com a lívida sincronia do trombone com os saxofonistas e, no decorrer, atinge àquela unicidade que remete ao cool jazz dos anos 50.
E para enlouquecer o clima já descontraído que os brasilienses proporcionaram, eis que surge Bocato para tocar "Menina-Moça", iniciando uma jam session em parceria com Xande alternando sonoridade e leves passinhos insípidos. "A gente escuta o som desse cara desde que éramos moleques", declarou o baixista Fábio. "Ele devia entrar pro Móveis", convidou um inquieto e demoníaco André Gonzales. Pena o baterista não intercalar uma pegada jazzística para acompanhar a arte da improvisação dos trombonistas.
Tanta experiência só atrairia mais reverência dos (novos?) fãs, que não cessaram elogios ao clamarem: "Bocato! Bocato!".
Em uma hora de apresentação, hits como "Sadô-Masô" e, para finalizar, "Copacabana", não poderiam se ausentar do repertório, com direito a uma ousada entrada dos integrantes da banda ao palco para gritarem o último refrão com a platéia em uníssono: "Minha intuição não me engana / você vai ser tão Copacabana / e o inferno lembra fim-de-semana", numa espécie de brincadeira de sobe-e-desce-joga-a-mão-pra-lá-e-pra-cá que definiu, superficialmente, o público dos Móveis Coloniais de Acaju: jovens entretidos, apreciadores de som de alta qualidade e deliciosamente desavergonhados de expressarem suas faces mais infantis - que não ligam de serem levados tão a sério. Assim como os Móveis.
Resta saber se o novo trabalho será tão relevante para o atual cenário musical brasileiro como Idem. O resultado não vai demorar pra chegar, mas, pelo que aparenta, fará jus à consagração que a banda de Brasília já conquistou em pouco tempo. Teria o Móveis um lugar no ranking das melhores bandas do momento?
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