George Orwell deve estar se remoendo no túmulo. O site Amazon cancelou, sem avisar, o direito das versões digitais das suas principais obras, A Revolução dos Bichos e 1984. O motivo alegado foi que a Mobile Reference, que repassou os direitos do e-book das obras para o Amazon, não detinha legalmente esse direito.
O que mais intriga nessa história é tal supressão acontecer justamente com as obras de Orwell. O escritor britânico foi um dos principais críticos das agruras do autoritarismo, lutando com fervor contra a disseminação do ideal manipulável de coletividade social.
Presenciar a ascensão do socialismo, a intolerância do nazismo e a digressão de utopia do stalinismo não foi lá uma experiência muito conciliadora. Ele não foi nenhum teórico marxista, tampouco demagogo em suas críticas. Vendo política em tudo, o escritor captou rapidamente a mensagem quando viu Hitler seduzir uma multidão com a falácia da soberania racial, através do socialismo (traduzindo, nazismo).
Vale reiterar que, apesar do socialismo ser o principal alvo de suas duas últimas obras, ele mesmo jamais negou a afeição que tinha por este sistema político. O que realmente o intrigava era a capacidade humana de articular maldades catastróficas para satisfazer desejos pessoais. Trabalhando essa realidade, Orwell ironizou, em A Revolução dos Bichos, a malévola possibilidade de um fraco almejar o poder. A obra é situada em uma fazenda, onde os humanos dão lugares aos bichos e tentam estabelecer uma regra de conduta para se relacionarem.
Neste cenário, um porco acaba conquistando a liderança dos animais. Exercendo carismaticamente seu papel de líder, num dado momento ele acaba falhando e os demais bichos se revoltam com sua forma de 'governar'. Só que a coroa do poder caiu-lhe tão bem à cabeça, que ele resiste em ceder e passa a manter seu 'cargo' de forma autoritária. Quem obedecer, permance na fazenda; senão, rua! Daí surge a necessidade de um slogan político, estampado na entrada do rancho: "Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que os outros".
Na correnteza desse pensamento, entende-se que a democracia é algo impossível de se concretizar na prática; talvez seja um sonho muito mais distante daquilo que o socialismo foi um dia. Sublinhando Winston Churchill: "Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos".
Eficácia sócio-política, num determinado espaço geográfico, é o que demanda a chave do sucesso para a perpetuação de um incontestável sistema opressor. Essa é a problemática abordada - com um refinamento literário grandioso na escrita e no sarcasmo de George Orwell -- em 1984. Junto com Admirável Mundo Novo, novela de Aldous Huxley, essa é uma das obras futuristas que melhor retratam a realidade virtual.
Na obra de Orwell, três estados totalitários vivem em constante guerra. É mais ou menos como se fosse uma antecipação à situação de Bush nas eleições de 2004; a promessa de sua candidatura de combate ao terror foi a campanha eleitoreira que o elegeu como presidente (apesar de alguns analistas e críticos questionarem os números de sua vitória). Da mesma forma, os líderes destes três estados mantinham suas devidas situações políticas como forma de acalmar seus súditos. Com o devido carisma, o Big Brother passava o ideal socialista de boa governança, estabelecendo uma abstrata paz social sem desavenças -- nem perguntas.
O sistema político é dividido entre ministérios vigilantes que disfarçadamente supervisionam a ordem das coisas. Anos após uma batalha danada pelo domínio da massa, o Big Brother estabeleceu um contrato de conformismo com sua população, que acabou fazendo com que eles esquecessem naturalmente a origem e a razão dos acontecimentos. Provavelmente a máxima de Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, foi o cerne das páginas de 1984: "Uma mentira, muitas vezes repetida, torna-se verdade". Tomando essa filosofia, não é de se estranhar que frases como "Ignorância é força" e "Liberdade é escravidão" surtissem efeitos psicológicos paradoxais quando disseminados em larga escala.
Por trás de tudo, como numa fábula conspiratória, havia as divisões da polícia, que cuidava com que seus congêneres não desviassem de conduta. O método era ultrasecreto; qualquer cidadão parado no meio da rua podia fazer parte da Polícia do Pensamento, pronta para cumprir as ordens do Big Brother de "estar vigiando você".
Ao ler as duas obras, situá-las no tempo presente é a primeira reação que se tem. Basta entrar na internet e logar no Google para ver aquele mesmo símbolo na maioria das suas 'páginas iniciais'. Esse fato alude facilmente à onipresença do Big Brother. (Nem vou citar esse programa pueril da televisão brasileira para não acabar soando redundante.)
Infelizmente, o tema tratado nas obras de George Orwell é uma realidade que já estamos vivenciando. A suposta ideia de que estamos a vontade com a internet nos faz pensar que vivemos numa sociedade igualitária e livre para o debate. (Como, por exemplo, achar que estamos fazendo revolução com o Twitter.) Mas não é bem assim; é um ideal idiossincrático, não dá para resumir numa teoria das possibilidades. Vai de cada um repensar qual o verdadeiro significado da palavra liberdade, alimentando o cérebro com conquistas intelectuais e prezando o possível para que o direito de fazer aquilo que quer nos critérios de sociabilidade seja respeitado. Essa é uma batalha que deve ser disputada por todos.
O que mais intriga nessa história é tal supressão acontecer justamente com as obras de Orwell. O escritor britânico foi um dos principais críticos das agruras do autoritarismo, lutando com fervor contra a disseminação do ideal manipulável de coletividade social.
Presenciar a ascensão do socialismo, a intolerância do nazismo e a digressão de utopia do stalinismo não foi lá uma experiência muito conciliadora. Ele não foi nenhum teórico marxista, tampouco demagogo em suas críticas. Vendo política em tudo, o escritor captou rapidamente a mensagem quando viu Hitler seduzir uma multidão com a falácia da soberania racial, através do socialismo (traduzindo, nazismo).
Vale reiterar que, apesar do socialismo ser o principal alvo de suas duas últimas obras, ele mesmo jamais negou a afeição que tinha por este sistema político. O que realmente o intrigava era a capacidade humana de articular maldades catastróficas para satisfazer desejos pessoais. Trabalhando essa realidade, Orwell ironizou, em A Revolução dos Bichos, a malévola possibilidade de um fraco almejar o poder. A obra é situada em uma fazenda, onde os humanos dão lugares aos bichos e tentam estabelecer uma regra de conduta para se relacionarem.
Neste cenário, um porco acaba conquistando a liderança dos animais. Exercendo carismaticamente seu papel de líder, num dado momento ele acaba falhando e os demais bichos se revoltam com sua forma de 'governar'. Só que a coroa do poder caiu-lhe tão bem à cabeça, que ele resiste em ceder e passa a manter seu 'cargo' de forma autoritária. Quem obedecer, permance na fazenda; senão, rua! Daí surge a necessidade de um slogan político, estampado na entrada do rancho: "Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que os outros".
Na correnteza desse pensamento, entende-se que a democracia é algo impossível de se concretizar na prática; talvez seja um sonho muito mais distante daquilo que o socialismo foi um dia. Sublinhando Winston Churchill: "Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos".
Eficácia sócio-política, num determinado espaço geográfico, é o que demanda a chave do sucesso para a perpetuação de um incontestável sistema opressor. Essa é a problemática abordada - com um refinamento literário grandioso na escrita e no sarcasmo de George Orwell -- em 1984. Junto com Admirável Mundo Novo, novela de Aldous Huxley, essa é uma das obras futuristas que melhor retratam a realidade virtual.
Na obra de Orwell, três estados totalitários vivem em constante guerra. É mais ou menos como se fosse uma antecipação à situação de Bush nas eleições de 2004; a promessa de sua candidatura de combate ao terror foi a campanha eleitoreira que o elegeu como presidente (apesar de alguns analistas e críticos questionarem os números de sua vitória). Da mesma forma, os líderes destes três estados mantinham suas devidas situações políticas como forma de acalmar seus súditos. Com o devido carisma, o Big Brother passava o ideal socialista de boa governança, estabelecendo uma abstrata paz social sem desavenças -- nem perguntas.
O sistema político é dividido entre ministérios vigilantes que disfarçadamente supervisionam a ordem das coisas. Anos após uma batalha danada pelo domínio da massa, o Big Brother estabeleceu um contrato de conformismo com sua população, que acabou fazendo com que eles esquecessem naturalmente a origem e a razão dos acontecimentos. Provavelmente a máxima de Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, foi o cerne das páginas de 1984: "Uma mentira, muitas vezes repetida, torna-se verdade". Tomando essa filosofia, não é de se estranhar que frases como "Ignorância é força" e "Liberdade é escravidão" surtissem efeitos psicológicos paradoxais quando disseminados em larga escala.
Por trás de tudo, como numa fábula conspiratória, havia as divisões da polícia, que cuidava com que seus congêneres não desviassem de conduta. O método era ultrasecreto; qualquer cidadão parado no meio da rua podia fazer parte da Polícia do Pensamento, pronta para cumprir as ordens do Big Brother de "estar vigiando você".
Ao ler as duas obras, situá-las no tempo presente é a primeira reação que se tem. Basta entrar na internet e logar no Google para ver aquele mesmo símbolo na maioria das suas 'páginas iniciais'. Esse fato alude facilmente à onipresença do Big Brother. (Nem vou citar esse programa pueril da televisão brasileira para não acabar soando redundante.)
Infelizmente, o tema tratado nas obras de George Orwell é uma realidade que já estamos vivenciando. A suposta ideia de que estamos a vontade com a internet nos faz pensar que vivemos numa sociedade igualitária e livre para o debate. (Como, por exemplo, achar que estamos fazendo revolução com o Twitter.) Mas não é bem assim; é um ideal idiossincrático, não dá para resumir numa teoria das possibilidades. Vai de cada um repensar qual o verdadeiro significado da palavra liberdade, alimentando o cérebro com conquistas intelectuais e prezando o possível para que o direito de fazer aquilo que quer nos critérios de sociabilidade seja respeitado. Essa é uma batalha que deve ser disputada por todos.
Entretanto, como o chão do mundo real nos mostra, comprar um livro digital através de um leitor de PDF's (Kindle) parece estar longe de trilhar o caminho da vitória.
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