Hugo Chávez não é excêntrico. Tampouco, alarmante. Muito menos, desregulado.

Quando o presidente venezuelano defende com vigor que as tropas americanas se retirem da Colômbia, sabe que não é em vão a retórica da dominação dos Estados Unidos no continente sul-americano. Barack Obama, até agora, não voltou seus olhares com afinco para a política da região, apesar de manter bons diálogos com a diplomacia da América do Sul.

Só que a permanência das tropas americanas na Colômbia implica não só em mais insegurança para a cúpula esquerdista liderada por Chávez, mas tira um pouco da autonomia dos países da América do Sul, principalmente do Brasil, maior território da região. O que mais intriga é ver que a imprensa brasileira não se posiciona firmemente nessa questão, porque não sabe argumentar contra a atitude dos Estados Unidos em espalhar seu exército globo afora.

A geopolítica norte-americana é representada pelo seu Exército contíguo em áreas estratégicas. Segundo informações da Folha, os Estados Unidos têm mais de 300 mil soldados no exterior, fincados em 40 países (clique na página de jornal ao lado).

Ou seja, EUA ainda fazem política à lá Guerra Fria, espalhando não ideologia capitalista e influência ianque, mas poder, assegurando uma força dominante no globo. Não é à toa que 43% dos gastos globais em militarismo advém da maior potência. Pouco?

Afirmar que a aceitação do exército americano na Colômbia é uma tentativa de acabar com o narcotráfico é um disparate, e dos grandes. Se é para tanto, Álvaro Uribe (presidente da Colômbia) podia muito bem fechar uma reunião com os membros da Unasul e pedir uma cooperação local para combater o problema do tráfico em seu país. Só que Uribe aceita o apoio norte-americano porque não quer perder seu posto de grande aliado do gigante. Isso não passa de subserviência infantil para garantir o cafuné do patrão. É uma abstrata lição de casa com rascunhos muito mal elaborados.

Lula pode ter aceitado essa imposição imperialista, que Obama poderia revisar em sua política externa. Mas sabe que a localização geográfica dos soldados norte-americanos na Colômbia não compromete o território amazônico, fonte que ele tanto teme uma invasão. Entretanto, a força geopolítica dos Estados Unidos é concentrada demais para não temer uma influência global generalizada que desencadeie numa manifestação de interesses dos mais ricos. Não é de hoje que a Guerra fortalece os Estados Unidos. Lembremos que ela se tornou uma potência após financiar as duas guerras mundiais. E investe severamente na Defesa para que esse poder seja mantido.

Portanto, é muito mais fácil discorrer que a América Latina perdeu seu senso de coletivismo e não consegue atingir um consenso. Para que isso ocorra, é necessário que os próprios componentes do continente confiem na política dos aliados e cooperem para que as ideologias não se enfrentem e formem um bloco dividido por ideologias contrárias. O efetivo desempenho dessa aliança entre os países da América do Sul carece de uma união que permita o fortalecimento da região. Para isso, a política de cada país não deve ser uma problemática; deve ser trabalhada de forma integral, ultrapassando os limites das oposições ideológicas direita x esquerda. Isso só é possível com muito diálogo e maturidade, respeitando as condições diplomáticas de cada membro.

A maioria dos países da América do Sul discordaram da posição de Uribe em manter o exército americano. Entretanto, Uribe não quis cooperar e atropelou todas as divergências de seu bloco. Pros EUA, é só mais um índice da eficácia de sua expansão militar mundo afora. Republicanos e conservadores agradecem. Já para a América do Sul, é uma desventura que põe em xeque sua força, sua conjuntura e sua ideologia. Nessa jogada, a Colômbia apenas cumpre seu papel de subserviência; não importa o quanto leve bronca do (ex) parceiro Chávez. E joga a credibilidade do bloco sul-americano às favas.

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