quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Imigrantes chineses em São Paulo

Neste último final de semana fui à Campinas, juntamente com meus dois colegas Cleber Arruda e Ronaldo Sanaie, para conhecer um pouco do comércio dos chineses na região central da cidade, a convite do prof. Sung Tien Lo, que nos recebeu de forma muito cordial. Esta visita faz parte de nosso projeto acadêmico.

Imagem do Centro de Campinas

Orientados por Sung, caminhamos no centro da cidade e conversamos com alguns chineses, que nos receberam muito bem. Ao contrário da 25 de Março (cenário de nossa pesquisa acadêmica), que tem cubículos extremamente desorganizados devido a intensa movimentação, os lojistas de Campinas são orientados a adaptarem-se aos padrões comerciais brasileiros. Quem cuida disso é a Aliança Brasil-China de Campinas, da qual Sung é presidente. Eles auxiliam os imigrantes chineses a manterem um ambiente mais agradável em suas lojas, o que lhes assegura uma renda maior em seus negócios. "Nós aconselhamos a eles não deixarem objetos nas calçadas, o que obstrui a passagem dos consumidores, a organizarem melhor o espaço e não lotar de mercadorias", diz Sung.

Roberto, chinês dono de uma loja de variedades na região, veio para o Brasil há cerca de 20 anos atrás, com sua mulher. Ele trabalha com os filhos na loja. Quando fomos apresentados a ele pelo dr. Sung como universitários, de cara Roberto disparou, com um português bem dificultoso: "Vocês estudam em universidade pública?". Respondemos negativamente, no que ele rebateu: "Meu filho passou em muita universidade pública: Unesp, né... Ufscar... mas a Unicamp e a USP não".

Adoraria ter conversado mais tempo com Roberto, mas não foi possível no momento. A partir daí, pude entender que a nova geração de chineses que permanecem no Brasil não é mais estimulada pelo comércio. Roberto não soube definir a carreira que o filho quer trilhar. "Acho que... Administração", arriscou, sempre encerrando a frase com um sorriso cordato.

O prof. Sung Tien-Lo explicou que os chineses, quando vêm para o Brasil, formam laços de amizades similares aos brasileiros. "Vocês não ficam contentes quando vêm uma pessoa que morou na mesma região que você? É a mesma coisa". Isso facilita a permanência e a confiança destes imigrantes. Eles se instalam em pequenos cubículos, recebem apoio de antigos moradores chineses e 'se viram' para conquistar seu espaço comercial e garantir uma renda estável no país estrangeiro.

"O comércio é o porto seguro [do imigrante chinês no Brasil]". Quem afirma essas palavras é Chang, 50, que fala o português tão bem quanto qualquer outro brasileiro. Ele se mudou para o país quando tinha pouco mais de cinco anos e montou uma loja própria recentemente, há um ano atrás. Antes disso, sua família já foi dona de bares, restaurantes e diversos estabelecimentos, mas sempre com a premissa do comércio. Essa sina do imigrante chinês é devidamente explicada pelo dr. Sung: "O chinês trabalha no comércio porque não exige que se fale o português". Basta ter o produto para vender, estabelecer um preço e realizar a venda.

Muitos comerciantes chineses têm extrema dificuldade para se comunicarem. A língua portuguesa é um grande entrave para os imigrantes. Tanto é que, quando estão em família (algo comum entre os chineses, devido aos valores tradicionalistas que estão intrínsecos à moral predominante do país de origem), eles conversam em mandarim.

Entender a situação dos chineses no Brasil é complicado, pois a China vive um momento de transição e, aparentemente, isso não reflete nos chineses que estão por aqui. O gigante asiático abriu as portas ao mundo do capitalismo, com Deng Xiaoping em 1978, e está em ritmo acelerado de crescimento -- cerca de 10% do PIB ao ano, nessa última década.

Se antes os chineses repudiavam o consumo por manterem uma tradição da ética de Confúcio, o Jesus Cristo da China, hoje em dia os jovens chineses de lá já associam essa visão a um "pensamento arcaico", conforme constatado no Especial da China da Revista Veja (sei que ela não tem essa credibilidade, mas o conteúdo ficou bom, sim). E grande parte dos imigrantes chineses que vivem em São Paulo vieram pra cá há cerca de, pelo menos, 20 anos. E ainda mantêm as tradições de seu país de origem.

O que reforça ainda mais esse apego à tradição chinesa é o fato de serem imigrantes. Eles tentam fazer prevalecer a identidade cultural para se fazerem existir no Brasil, que muitas vezes o vê com preconceito. Roberto, que já voltou à China algumas vezes depois que se mudou para o Brasil é um exemplo. "Aqui as pessoas te vê diferente" "Mas, Roberto, a China também mudou bastante, não foi?", nós perguntamos. "Ah, mas não muda, é tudo igual. Você olha pra todo lado e vê todo mundo com a mesma cara, tudo igual. Aqui é todo mundo diferente da gente".

Portanto, engana-se quem afirma que aparência não quer dizer nada; ela é a válvula de escape, nesse caso, para os chineses. Saber que tem pessoas iguais vivenciando com eles a diferente realidade que é o Brasil da cultura chinesa, é uma forma de segurança. Muito mais que segurança, é um sentido de existência.

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9 Atemporalizados:

Márcia W. disse...

Hen hao, Tiago!

Vai rolar uma série sobre suas observações acadêmicas?

Márcia W. disse...

PS: Shaft é bom demais!

Tiago Ferreira da Silva disse...

Márcia,

Com certeza vai. Se aprende muito com uma cultura tão diferente como a chinesa. Cada vez que travar contato com um, postarei algo.

Quanto ao Shaft, nem tem o que dizer.

Unknown disse...

Caros amigos,
Voces merecem o Oscar do Blog....muito bem elaborado , e iremos agendar outras visitas.
Um abrac,o

sung

Tiago Ferreira da Silva disse...

Sung,

Que honra tê-lo comentando aqui. Fico muito feliz por sua disposição, sei que renderá muitos frutos!

Um grande abraço!

Anônimo disse...

ola. gostaria de saber ,se vc caro sung .foi um dos socios do restaurante, sopa rodoviaria da antiga rodoviaria de sao paulo. que fechou em 1981 ? ou vc ,conheceu algum dos socios que tinha la. obrigada e um abraço .seria muito importante pra mim , se vc me responder .

Anônimo disse...

ola gostaria de saber se o sr conheceu o antigo restaurante em sao paulo chamado sopa rodoviaria e o antigo dono de la que era conhecido como antonio chines por favor ce souber algo me comunique é muito importante pra mim obrigada fernanda

Andréa disse...

Olá parabéns pelo artigo me foi muito útil,tomo a liberdade de lhe solicitar qualquer material que fale sobre a a cultura, e principalmente das necessidades que o chineses tem aqui no Brasil, sou profissional de Marketing e estou fazendo uma pesquisa para colher essas informações, então o que puder me enviar ou até mesmo orientar ficarei grata.

Andréa Félix

Jorge Ramiro disse...

Oi Andrea, eu trabalhei muito tempo com uma câmara de comércio de supermercados chineses, mas não aqui no Rio de Janeiro. Aqui eu trabalho com uma cadeia de restaurantes em são paulo. Os proprietários são chineses, mas a comida não é típica da China. É a cozinha brasileira.

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