quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Michael Jackson encontra John Lennon no purgatório

Fonte da imagem: Novacharges

[Para lembrar o Feriado de Finados, que veio para nos trazer um dia a mais de glória e lazer, como nos finais de semana]

- Caramba, já tinha desistido de você! Vamos julgá-lo rapidamente, apesar de já sabermos onde isso vai dar por ora... - disse São Pedro.

- É que houve algumas complicações com esse negócio de fãs, acusações e herança. Mas estou aqui, uma hora tinha que vir, né? Quanto ao lugar onde vou, já sei. É, hãã... purgatório? - arriscou Michael Jackson.

- Sabe Michael, tem gente que está lá há séculos, esperando julgamento. É pra lá mesmo que você vai, vou te mostrar o caminho.

Neste momento, São Pedro puxou a mão trêmula do popstar e saiu por uma porta de madeira velha meio arranhada. Havia algumas inscrições, que Michael tentou decifrar de alguma forma. Mas ele jamais entenderia: afinal, que tempo teria o astro para reparar nas letras de pichação das ruas imundas?

Michael não havia imaginado que aquilo que se vê depois da morte era tão descuidado. Atrás da porta, havia uma espécie de selva, com árvores queimadas, carros capotados, uma gritaria infernal. "Sabe como é. Depois que o homem pisou aqui houve uma mudança de cenário", explicou o anjo. "Nada que você não vá se acostumar".

Eles passam por uma viela decadente, com placas caídas e muros de chapisco com mais pichações. Desta vez, o cantor conseguiu ler o que estava escrito: "I could be a bad guy. But, I didn't". Em outro, "Life is sucks. Suicide is good". Até que teve um que o impressionou bastante: "Beatles was the worst thing that I ever made".

- Ok, sabe se John Lennon está por aí? - perguntou Michael.

- É pra lá que estamos indo. Sabe como é: de vez em quando o superior dispara algumas provisões!

O líder dos Beatles estava diferente. Os óculos que o distinguiam à distância não estavam no seu rosto. Ele usava um boné da Nike, camiseta com a figura de Sheeva e uma calça jeans surrada. Das peças que seriam associáveis ao ícone, apenas um tênis All Star branco.

- Vou deixá-los a sós. Vocês tem muito o que conversar - despediu-se São Pedro.

Então, Michael começou o diálogo:

- Por que você quer se tornar outra pessoa por aqui? Cansou do sucesso, daquelas pessoas gritando, da loucura pela sua antiga banda?

- Claro que não. Você está totalmente enganado. Assim como você, tudo aquilo me fez tornar quem eu fui e quem eu sou agora. É que aqui, as regras são diferentes.

- Mas você tinha achado o sentido da vida. Lutou pela causa da paz, acreditava no ser humano. Agora vejo discrições suas pelas paredes horrorizando a revolução musical da banda que era líder e estampado de produtos de marca.

- Você não sabe de nada! Se eu fosse eu, neste lugar, as pessoas jamais me considerariam um igual. Quando cheguei, há mais de 20 anos, eles falavam: 'John Lennon... é, legal'. Sabe, não havia mais aquele glamour. E olha que fiz por onde em vida.

- E quer fazer por onde em morte?

- Cara, o purgatório preserva muito os ideais capitalistas. Estou jogando o jogo. Assim, por mais que esteja diferente, sou um igual. É isso que quero, no momento.

- Mas este lugar é maravilhoso. Olhe pra mim; estou do jeito que gostaria de ser: negrão, sem espinhas, com um cabelo parecido com o do James Brown - neste momento, Michael faz algumas movimentações, gira o corpo, fica tonto e acaba se esbaldando no asfalto.

- É inútil sua tentativa. Aqui, não existem virtudes. Por isso me visto como um cidadão idiota à espera da próxima ordem dos dirigentes.

- O que eles pedem?

- Matar alguns unicórnios para as refeições do Senhor e algumas perfurações no solo para ver se encontram algum petróleo, ou até mesmo o pré-sal.

- Qual a importância de tudo isso?

- Segundo São Pedro, o Senhor quer dar uma chance para a humanidade viver mais algumas centenas de anos. Para isso, ele conta com as almas penadas do purgatório. Às vezes, acho que é balela, só pra não deixar a gente sem ter o que fazer.

- Sei. Fiquei espantado com uma coisa. Vi uma pichação sua dizendo que os Beatles foi a maior besteira que você fez em vida...

- Com a inteligência daquelas letras, eu poderia muito bem articular melhor as ideias e ser o primeiro ministro da Grã-Bretanha, você não acha? A música é algo inútil para brotar na cabeça daqueles bastardos seres viventes.

- Obrigado por trazer um sentido à minha vida. A propósito, você sabe né, eu vendi mais discos que você, a galera ficou de luto por mais tempo, chorou mais... Acho que isso me torna a estrela máxima do pop.

- Parabéns pra você... - disse John, de modo esnobe - Isso já não interessa mais pra mim.

- Qual é a tua agora?

- Cara, tenho algumas ideias, mas preciso da sua ajuda. Aliás, só você, em vida, foi tão foda como eu na mesma profissão. Fiquei sabendo que existem umas eleições para ocupar o cargo do Senhor. Tipo, ele nunca foi um só. Sempre houve sucessões de cargo para que cada um não 'humanizasse' demais no mandato, querendo trazer a paz mundial, essas coisas utópicas. São a favor do livre mercado lá embaixo, da hegemonia cosmopolita e da exploração de terras. O negócio é o seguinte: quero me infiltrar, estou trocando uma ideia com São Pedro pra ver se ele me indica e vou entrar naquele Parlamento Sagrado.

- Uau, por isso você reclamou da inexperiência política. Mas onde eu entro nessa história?

- Você é negro por aqui, coisa rara no purgatório e tem mais apelo por sua vida difícil, por seus pré-julgamentos em vida e por sua grandiosidade.

- Céus, aqui o pessoal é racista?

- O que você esperava? Isso não explica os séculos de sofrimento lá embaixo? Na verdade, quero que você ocupe o cargo de Senhor para mudar algumas coisinhas que esses mandatários insistem em perpetuar com as pessoas que ainda vivem.

- E assim levar adiante seu plano de paz mundial. Pelamor! Isso é coisa pro Bob Marley ou James Brown. Por que você não falou com eles?

- Bob está em um lugar bem melhor que esse e James não para de festejar com Martin Luther King e os negros do Brooklyn a vitória de Barack Obama para presidência.

- Quer saber de uma coisa: estou fora dessa. Você que siga sozinho com suas utopias distantes. Nunca quis mudar o mundo, a paz é algo muito relativo, passageiro e ingênuo para ser conquistada. E outra: não quero ser evocado pelos meus fãs lá embaixo como se todas as maravilhas que viessem fosse por minha causa.

- Mas foi por isso mesmo que te escolhi. Afinal, você não queria dar a volta por cima, mostrar pra todo mundo que sua dança era eterna, evocar as multidões, causar fortes impressões para sua imagem? Essa é a chance, pensa bem...

- Cara, já consegui o que queria. Chega de alimentar ilusões. Fui chamado de criança, de débil, de imaturo pelos quatro cantos daquele mundo e não quero mais dar margem pra que pensem isso de mim por aqui também. Aqui é perfeito: não tem crianças, todos são normais, as ruas têm aquele ar de 'comum' que faltou na minha vida inteira, voltei a ser negrão, posso sair a hora que quero, não preciso negociar com agentes... Sabe o que eu acho: que esse lugar não muda ninguém, como achei que fosse ser assim que te vi. Os fins são os mesmos, mas o modo de obtê-los é que muda totalmente. Eu só quero andar por aí e fazer algumas amizades. Agora, me diga: onde você descolou esse boné aí? Muito louco! Passa ele pra cá...

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3 Atemporalizados:

Marcelo Mayer disse...

hahaha
boa
só faltou lennon pedir a grana de volta dos direitos autorais. e tb faltou um pouco mais de arrogância que lennon era.

hahaha
muito bom!

Tiago Ferreira da Silva disse...

Marcelo,

É verdade, esqueci de levar isso em consideração. Com certeza o Lennon ficaria puto com as músicas que o Michael comprou dele.

Valew pelo comentário, abraço!!

Rocio disse...

Eu acho que em algum momento, todos nós precisamos pensar sobre essas coisas a verdade é que eles são muito engraçado, espero que esta semana, quando trabalhando e lendo essas coisas pode encontrar minhas óculos nike

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