quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Imigrantes chineses em São Paulo #3



Viver longe do país de origem é sempre um desafio, principalmente quando se emigra para um local de cultura tão diferenciada. Brasil e China não compartilham os mesmos valores, crenças e costumes, mas, mais do que nunca, estão conectados.

Há muito tempo se fala de imigração chinesa no Brasil, mas a integração desta comunidade ainda é um dilema. Em São Paulo, quando se comenta de chinês, geralmente se associa à sua presença nos comércios da Rua 25 de Março, que acabou se tornando a marca registrada de trabalho deste imigrante.

Durante o processo de apuração da reportagem, tornava-se cada vez mais difícil entrar em contato com os chineses, conversar abertamente sobre assuntos corriqueiros e deixar explícito a proposta do trabalho. Por conta da abordagem da imprensa paulistana e da fiscalização policial dos comércios da região, estes imigrantes demonstram desconfiança e retração com qualquer brasileiro desconhecido que queira puxar assunto. Sob tais circunstâncias, o legado confucionista, que preza pela confiança na família, se reforça em cada cubículo chinês que forma o microcosmo da região.

Através do laço com a tradição do país de origem, os chineses imigrantes acabam se infiltrando na área do comércio no Brasil, contando com a ajuda de lojistas conterrâneos que já estão no país há mais tempo. Hoje, já somam cerca de 20 mil lojistas chineses, segundo a Associação de Empresários Chineses no Brasil.

Outro fator de complicação para os chineses é a língua, o que justifica a contratação de funcionários brasileiros para auxiliar no comércio – ou latinos, como paraguaios e bolivianos, que estão firmando presença na área. Somadas à distinção cultural e a diferenciação de costumes, a língua contribui para o fechamento da comunidade chinesa no Brasil, que vê no comércio uma possibilidade – a porta de entrada para o início de uma nova vida.

Com a abertura econômica em 1978 e a adesão à Organização Mundial do Comércio em 2001, a China vive áureos momentos de crescimento do PIB, se tornando um país cada vez mais importante nas decisões mundiais. E isso reflete no modo de viver chinês. Lá, o hábito de consumir, antes uma prática condenável pelos ensinamentos de Confúcio, acabou se tornando o novo slogan do Partido Comunista chinês na atualidade. Aqui, o hábito de poupança ainda é uma das características principais da comunidade chinesa, que se previne para as possíveis dificuldades que possam surgir. A maioria dos chineses usa o dinheiro guardado para investir na educação dos filhos, para que eles possam migrar para outras áreas profissionais.

Apesar de muitas vezes trabalharem com os pais, os jovens são a aposta dos chineses para um novo cenário no Brasil. Eles se esforçam para ingressar nas melhores universidades do país e garantir um bom cargo profissional no futuro para sustentar os pais com tranquilidade.

Em contrapartida, os chineses se veem presos a se manterem no comércio, uma vez que eles não param de chegar aos montes para tentar uma nova vida no Brasil.

Portanto, a permanência dos chineses aqui é repleta de ambiguidades. Poupam dinheiro, mas são vistos em carrões nas proximidades do trabalho, enquanto o consumo se torna a aposta do governo na China; moram no Brasil, mas conversam em mandarim o tempo inteiro com outros lojistas chineses; falam bem do país de origem, mas não veem outra possibilidade de vida fora da nova terra.

São essas curiosidades e esse jeito diferente de levar a vida que tornam os chineses personagens curiosos aos olhos brasileiros. Retratá-los como se deveria, apontando todas as reais diferenças entre brasileiros e chineses e aplicar no cotidiano deles a vastíssima cultura da qual estão inseridos, suscitaria em um trabalho muito mais extenso e analítico, que não caberia no conteúdo de uma postagem de blog qualquer.

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7 Atemporalizados:

Marcelo Mayer disse...

não podemos nos esquecer dos bolivianos, graças a escravidão posta por eles, todo mundo compra roupas no brás. são paulo não é mais do brasil

Tiago Ferreira da Silva disse...

É,Marcelo....

São Paulo é a terra dos imigrantes e nesse cenário os chineses conseguiram desfrutar do cargo de patrões, principalmente na 25 de março. Imigrantes de outras nacionalidades ainda estão procurando seu lugar ao sol, enquanto os chineses já firmaram seu microcosmo.

Abraço!!!

Palavras anônimas... disse...

Primo..
olha eu por akii :D

Beijos!!!

Tiago Ferreira da Silva disse...

Jé, minha querida!!!

Você é sempre bem vinda em qualquer espaço. Apareça sempre!

Beijão!

Márcia W. disse...

Tiago,
às vezes acho que tão complicado quanto aterrissar num lugar de costumes totalmente diferentes é ir morar num lugar onde a cultura é teoricamente muito próxima mas o diabo está nas sutilezas...

Tiago Ferreira da Silva disse...

Márcia,

Se o verdadeiro diabo está nas sutilezas, navegar nos detalhes de cada uma dessas culturas é um verdadeiro purgatório.

Tem horas que só quero sentar, tomar uma cerveja e esvaziar a mente - tipo, folhear uma "Caras" da vida.

Valew pelo comentário, beijo!!!

Márcia W. disse...

Garçom, desde duas!;)

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