A Cidade do Sol, de Khaled Hosseini, é mais que um bom livro. Ele é um extenso aprendizado na trajetória da vida. O autor pondera de forma excepcional a emoção contida na história de duas mulheres que vivenciaram a transição política do Afeganistão para uma república islâmica. Além disso, carrega o difícil fardo de apresentar o cenário daquele país de forma instigante, sem cometer o pecado fatal de deixar o leitor desinteressado pela linguagem que mescla um pouco de História e romance.

Laila e Mariam, as personagens principais da obra, são duas mulheres que vieram de origens diferentes, mas que passaram por provações similares, decorrentes do difícil momento que o Afeganistão passava por volta de 1978. Mariam, que era a mais velha, perdeu as esperanças logo quando jovem, quando se viu obrigada a casar com um homem que mal conhecia depois de perder a mãe de forma trágica. Tempos depois, nasceu Laila, que vinha de uma boa família e teve uma ótima educação, pois seu pai era professor universitário.

Só que o Afeganistão passaria por um triste período histórico. Com a Guerra Fria, os soviéticos invadiram o país para conquistar influência geopolítica e causaram um imenso caos. Muitos não concordavam com a passividade do governo da época, o que acabou suscitando em uma guerra civil muito violenta.

Cabul, a capital do país, estava sob o espectro da violência. Muitos que se alistaram (na obra, os irmãos de Laila, que ela nem chegou a conhecer, exemplificam o mal estar da guerra numa família) acabaram montando grupos de resistência para tomar o poder. Para combater o 'mal' do comunismo, eles se organizaram em prol da religião árabe, o islã, e tornaram o Estado, antes democrático, fundamentalista.

As mulheres não podiam sair sem a burca e nem andar desacompanhadas de seus maridos, senão seriam linchadas em praça pública. Todos deveriam fazer suas orações diárias e não podiam ficar perambulando à toa, senão também apanhariam. É nesse cenário que Laila e Mariam se conhecem e passam a compartilhar a sobrevivência diária sob o mesmo teto. Soma-se às dificuldades das protagonistas o fato de o marido delas, Rashid, ser um homem extremamente impaciente, arcaico, machista e violento.

Hosseini acerta na dosagem de dramaticidade, porque não apela para o sentimentalismo do leitor e nem deixa a história previsível. Ele apresenta as personagens de uma maneira que instiga bastante, sempre alternando o romance com o conflito do Afeganistão.

Lendo A Cidade do Sol, o leitor acaba aprendendo mais sobre um país pouco conhecido aos olhos ocidentais, entra em contato com a cultura local e com a triste condição das mulheres diante de um regime fundamentalista, além de se emocionar com a vivacidade das personagens, com os erros e acertos de Laila e Mariam, com os sonhos perdidos e a esperança reluzente que brotam de uma realidade injusta para mulheres como elas.

Altamente recomendado não só para as mulheres, que vão se identificar com cada ensejo das personagens, mas também para os homens, para valorizarem a importância do direito de liberdade e igualdade de suas companheiras. Mais que tudo isso, A Cidade do Sol é um livro para a vida, que reforça o talento e a habilidade de trabalhar o romance dramático de forma estimulante do escritor de O Caçador de Pipas.

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