quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Imigrantes chineses em São Paulo #2

Continuo a trajetória sobre os chineses no Brasil, que já foi abordado aqui.

A imigração dos chineses é antiga; ao contrário do que muitos pensam, ela começou no século XIX e foi estimulada pelos colonizadores portugueses para substituir mão-de-obra escrava.

Desde que chegaram por aqui, os chineses já eram alvo de preconceito. Pelos portugueses, que aportaram na China na infindável trajetória em busca das Índias; e pelos intelectuais brasileiros posteriormente, que acreditavam que os chins eram incapazes de ajudar o Brasil a se desenvolver. Geralmente, associavam os orientais ao escravismo e à submissão voluntária, algo que os lusitanos tinham observado quando fizeram uma pausa na China. Por isso os portugueses tentavam, mais e mais, trazer mais chineses para o Brasil, como tentativa de esforços para provar à Inglaterra que estava combatendo a exploração com os negros, algo que o país europeu vivia pressionando.

De primeira, fizeram os preparos para trazer cerca de 3.000 chineses na metade do século XIX. Só vieram cerca de 300 para trabalhar na antiga capital do Rio de Janeiro, próximo ao Jardim Botânico.

Mas eles não vieram substituir os negros. Para contornar a pressão da Inglaterra, os colonos pagavam salários baixíssimos aos orientais, que eram obrigados a assinar um contrato que exigia a permanência de pelo menos 5 anos trabalhando no Brasil.

Não demorou muito para que surgissem os primeiros subversivos. Alguns chineses conseguiram escapar de seus 'patrões' e começaram a se estabelecer na cidade, vendendo iguarias de seu país de origem. Foi mais ou menos por essa época que eles começaram a vender pastéis e plantar chá chinês.

Mas o estigma agourento de submisso continuou perseguindo os chineses no Brasil. Dificilmente conseguiam se adentrar em grandes cargos, mas conseguiram espaço em alguns serviços públicos, como secretariado.

A vinda dos imigrantes chineses ao Brasil é um reflexo da política da China. Antes de Mao Tsé-Tung chegar ao poder em 1949, ela sempre fora imperialista e restritiva; sustentava uma política exploratória nos campos e vigilantes nas poucas metrópoles que foram se firmando.

Não que tenha mudado muita coisa com a ascensão de Mao; ele fechou as portas da China para o diálogo internacional, tomou controle de toda sua população à sua maneira e criou um nacionalismo pernicioso que prejudicava vorazmente as minorias.

Nesse tempo, a diáspora chinesa foi diminuindo, porque Mao dificultava a saída de chineses para outras terras. Principalmente depois da Revolução Cultural, de 1966, que dizimou acadêmicos e colocava em prática a ideia de duplipensar que George Orwell teorizou no romance "1984". Ou seja, quem ousasse sair do país nesse tempo, dava brechas para o governo chinês pensar que algum ato de submissão estava sendo cometido. Isso apavorou muitos chineses.

O ano de 1978 é mais que histórico para os chineses. Além de ser o ano em que Deng Xiaoping anunciou a abertura econômica do gigante asiático, mantendo a mesma política socialista herdada de Mao, foi o ano em que a mudança social começou a fazer a diferença. A partir dessa época, muitos chineses também começaram a procurar melhores lugares para morar, para garantir uma vida financeira mais estável . E a diáspora se reiniciou.

Cerca de 35 milhões de chineses vivem fora do seu país de origem. No Brasil, vivem cerca de 200.000, fora os filhos dos imigrantes que nascem aqui. 90% desses imigrantes moram em São Paulo. Na Rua 25 de Março, que é o centro de pesquisa para uma grande reportagem (que será realizada por mim e + 3 colegas), trabalham cerca de 20.000 chineses. A maioria se concentra nos shoppings e galerias da região.

A dificuldade da língua é uma problemática. Eles aprendem o português geralmente no convívio com o brasileiro. Na 25, eles geralmente vendem roupas, artigos, acessórios de beleza, bolsas, relógios, etc. Vendem de tudo.

Mas, ainda hoje, persiste um preconceito muito grande com os chineses. Só que agora os papeis se inverteram. Se antes eles eram tidos como subversivos, hoje são mais taxados de exploradores, já que eles gerenciam boa parte do comércio na região da 25. Não se vê chinês trabalhando para brasileiro - muito pelo contrário. Quem fica atrás do balcão é o oriental. E de funcionário, não é só brasileiro; é fácil circular e ver bastante paraguaio e boliviano.

Essa inversão acabou criando um microcosmo na região. Chineses andam pra lá e pra cá pela 25 falando em mandarim, conversando com outros conterrâneos e se adaptando à realidade brasileira no ramo do comércio. É como se eles criassem uma mini-China na região central de São Paulo. Pelo menos, aparentemente.

Mas na prática não é assim. Não mesmo. Em outro post explicarei o porquê.

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3 Atemporalizados:

Dauri Batisti disse...

Bom o texto. Taí uma realidade que não conheço. Valeu.

Um abraço.

Tiago Ferreira da Silva disse...

Obrigado, Dauri.
Acompanhe que em breve postarei mais informações sobre os chineses.
Abraço!

apl disse...

Olá Dauri.

Disposto a conversar? Estou tendo uma experiência inesperada e impressionante com a comunidade chinesa em são paulo. Sou professora de portugues de alguns deles, depois de anos de ostracismo com o mandarim que aprendi lá na casa deles mesmo. Estou com mil projetos e coisas na cabeça e fiquei interessada da reportagem que vocês estão fazendo.
Abs,
Andrea

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