segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O dilema de Marina Silva na candidatura de 2010

Em uma disputa partidária, principalmente na corrida para a sucessão do presidente em 2010, é difícil ouvir algum candidato propor uma união de partidos em busca de um bem maior na política social e - principalmente nos dias de hoje - ambiental.

Esse é o caminho sugerido pela presidenciável Marina Silva (PV) em entrevista ao jornal Valor Econômico. Em meio às discussões de cientistas políticos sobre o apoio de Lula à Dilma Rousseff e a incerteza do PSDB em por na disputa Aécio Neves ou José Serra para as eleições de 2010, Marina prefere articular melhor sua cartada política longe dos espectros escandalosos.

O meio ambiente, certamente, é a peça chave de seu discurso em 2010. Entretanto, a ex-ministra e atual senadora sabe que tal debate, por mais que demonstre cada vez mais importância e exija participação efetiva da sociedade para contornar os efeitos do aquecimento global, deve estar aliado às políticas sociais de Lula, aos investimentos no quadro educacional e à política da boa vizinhança das relações exteriores.

Apontada como uma das 50 pessoas que podem salvar o mundo pelo jornal britânico The Guardian graças à sua dedicação ao meio ambiente, Marina vê a questão como "alternativa de poder" para se chegar à presidência.

A utopia em mudar o panorama nacional, que muitos jornalistas achavam ser característicos da senadora, é muito mais uma necessidade de uma senadora que mantém os pés no chão e acredita no poder de pressão da sociedade. "A sociedade brasileira conseguiu, através da pressão de diferentes setores, fazer com que se saísse da inércia. A questão conjuntural, política, mudou nos últimos três meses, fez com que começasse a haver uma competição positiva em torno da agenda ambiental. Uma agenda que estava fadada a passar ao largo da disputa de 2010", disse a senadora na entrevista.

Ela acredita que o Brasil é o país mais apropriado a elevar o debate do crescimento econômico sustentável às nações mais ricas e aos emergentes. Aliás, o país tem 45% de sua matiz energética limpa, abriga a maior floresta do mundo, é um dos poucos países que têm recursos naturais necessários para se tornar independente de outras nações...

Mas o grande empenho em tornar o Brasil uma nação-modelo ao mundo deve ultrapassar a esfera partidária e ser integrado com o reconhecimento das políticas anteriores. No caso ambiental, para Marina isso já está ocorrendo. "Como tenho muita tranquilidade de que essas mudanças não acontecem com o esforço de um partido e de uma pessoa, é uma integralidade de ações que precisam ser articuladas, celebro essa recém valorização do tema no processo político", atesta.

Na visão da senadora, a história do Brasil se consolida com o alinhamento de todas as conquistas dos governos anteriores, principalmente do período democrático pra cá. "Acho que o desafio diante do qual nós estamos vai exigir um realinhamento histórico sim. Conquistamos e estabilizamos a democracia; tivemos um sociólogo; agora, tivemos um presidente operário; e conquistas significativas e erros nas agendas de ambos os governos. O Brasil precisa agora apostar na qualidade política. Não basta ter a democracia consolidada. É preciso que as instituições políticas sejam revisitadas e reformadas".

Porém, com o índice de popularidade de Lula ultrapassando os 70% e as pesquisas do Datafolha apontando José Serra como o político com mais chances de ocupar a presidência em 2010, Marina Silva tem um páreo duro pela frente para provar à população a importância de se pensar numa política de longo prazo para o Brasil.

Na corrida presidencial, Marina Silva deve munir seus argumentos em prol de um Brasil energeticamente mais limpo, levando em consideração a importância das políticas assistenciais de Lula à população mais carente. Também deve manter os pés no chão para saber trabalhar com lucidez em um Brasil que atualmente configura um novo cenário na ordem mundial capitalista, principalmente com a descoberta do pré-sal e do papel conciliador nas relações internacionais.

Pensando no alinhamento histórico do país, Marina simboliza uma progressão exemplar para o mundo afora - sua competência em trabalhar com o meio ambiente de forma inteligente e sua teimosia em defender com unhas e dentes as causas nas quais acredita são internacionalmente reconhecidas. Mas, como disse o próprio Lula, é preciso aliar-se aos Judas do poder e saber trabalhar com os podres poderes que infelizmente impedem o avanço sócio-econômico do país. A causa, Marina já tem. Talvez, só lhe falte a lábia e a condescendência política para angariar mais eleitores e mais aliados na política. Se ela tem essa virtude ou não, só as eleições de 2010 mostrarão.

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