terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Grandes Álbuns #6: Rage Against The Machine (homônimo)



"Killing in The Name", certamente, é a música de rock que mais ouvi na vida. Foi ela que me introduziu às batidas pesadas, às letras revolucionárias, aos vocais estridentes e à performance verborrágica de um dos maiores vocalistas que já ouvi, Zack de la Rocha.

Não é a toa que esta canção é a principal do álbum homônimo de Rage Against The Machine, o primeiro que lançaram, em 1992. Lembro que quando comecei a escutá-lo, sempre me apoiava nas letras dos encartes. Justamente "Killing In The Name", a música que mais gostava, não tinha a letra reproduzida - o que me instigava a apertar o "Repeat" incansavelmente na tentativa de captar o sentido da canção.

Só a introdução melancólica do bumbo do baterista Brad Wilk já lançava o tom sórdido da canção. Eis então que entra a síncope do baixo de Timmy Commeford introduzindo o riff inicial da guitarra do cientista político formado em Harvard, Tom Morello. 

A letra é absolutamente politizada, como todas as canções do RATM. Fala da submissão generalizada dos cidadãos àqueles que dizem ter lutado em prol da liberdade de todos, usando como justificativa as "badges", ou medalhas honorárias. O termo "They are the chosen whites" ["Eles são os brancos escolhidos"] remonta à sociedade separatista construída pelo eurocentrismo. E olha que no grupo não há nenhum negro - todos são brancos, "escolhidos" ou não.

Outro tema recorrente nas letras de RATM é a violência, seja a opressão do Estado ou o instinto animal predominante daquele que não teve escolhas na vida. "Bullet In The Head" é a pura síntese disso. O Estado é o controle máximo de uma sociedade e não hesita em usá-la como cobaia de suas invencionices, até que um dia eles lhe enviam uma bala na cabeça. "They say jump / and you say how high / your brain dead / you gotta a fuckin' bullet in the head" ["Eles mandam pular / você diz o quão alto / seu cérebro apaga / você recebeu a porra de uma bala na tua cabeça"].

Mais de todos os temas que intrigam Zack de la Rocha e companhia o que mais se faz presente é a alienação, como também pode ser percebida nas duas canções citadas. Em "Know Your Enemy", os riffs característicos de heavy metal são a base do fervor de um cidadão que nasceu sem escolhas e que se mostra irritado com todo o aparelho estatal. Para ele, os inimigos são 'todos aqueles que me ensinaram a lutar comigo mesmo'. Quem, afinal? "All of which are American dreams" ["Todos eles são os sonhos americanos] - uma evidente crítica à hegemonia americanista e ao povo que sucumbe aos ideais dos mandatários norte-americanos.

Das referências musicais, pode-se dizer que o RATM é bastante influenciado pela afronta social do Public Enemy e dos preceitos do hip hop em geral; das guitarras barulhentas e da politização das letras do Living Colour, Bruce Springsteen e Cypress Hill. Também pode-se perceber o vazio niilista fortemente disseminado pelo punk rock, principalmente da estética criada pelos The Stooges. (Antes da dissolução do grupo, em 2000, eles gravaram covers dos artistas que mais lhe serviram de influência, incluindo canções de Bob Dylan e Afrika Bambaataa).

A liberdade de pensamento (influenciada pelo pensamento de George Orwell no livro "1984") é o tema de "Freedom", a incitação às revoltas populares nos moldes do idealismo de Che Guevara marca "Township Rebellion", o ato punk de destruir tudo que se vê pela frente está explícito em "Bombtrack" e o clamor dos rappers de lutarem pelo seu papel na sociedade é evidente em "Take The Power Back". Os instrumentistas, principalmente o exímio guitarrista Tom Morello, conseguem assimilar o tom nervoso dos vocais, trazendo sonoridades que instigam a revolta, a vontade de se libertar de algo ou mesmo o simplório hábito de pular do chão.

De forma direta, influenciados pelo som pesado do rock e do hip hop e revoltados com a onipresença do comodismo com o passar das eras, munidos de microfone, guitarra distorcida, baixo com o grave no talo e bateria marcando o compasso rítmico, Rage Against The Machine alçou, sem paralelismos, um lugar de destaque no rock pós-anos 80. 

Aliás, foi graças a este álbum que me interessei pelo ritmo, pelas causas sociais e pela leitura de Karl Marx. Ainda hoje, consigo escutá-lo como se fosse a primeira vez e digo: ainda dá para extrair muita coisa.




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1 Atemporalizados:

RATM disse...

Cara verdade quando passei a ouvir RATM passei a me interessar por Karl Marx e problemas socias, e isso faiz pouquissimo tempo.Eu nem tinha nascido qdo eles comessaram a tocar. kk

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