Bem que desconfiei daqueles cartazes nas ruas da Avenida Brigadeiro Faria Lima, 17 de julho de 2013. Havia uma revolta incoerente diante da ameaça de aumentar a tarifa do transporte público em 20 centavos.
Clamavam pela ‘mudança’, mas o medo prevaleceu. Assim devemos
interpretar a aceitação de 57% dos eleitores paulistas que reelegeram Geraldo
Alckmin governador nestas últimas eleições.
Na campanha pelo quarto mandato à frente do estado
brasileiro mais rico, não havia nada de ‘mudança’ em seu discurso. Alckmin não
detalhou nenhum projeto para a Educação – assim como não explicou o motivo de
ter diminuído em 37% a verba para o setor neste ano. Desconversou sobre a situação da USP, que está na mais longa greve de sua
história por conta dos congelamentos salariais propostos pelos reitores,
comprometendo 105% do orçamento da universidade. E
ainda não explicou por que recebeu doação de R$4 milhões de três empresas investigadas no cartel do metrô.
Alckmin não representa mudança, pelo contrário, está na reta
de um continuísmo nocivo. Deixa São Paulo como está: por debaixo dos panos,
assim como os mais favorecidos gostam, numa dinâmica em que os mais pobres
permanecem distantes de seus locais de trabalho, pegando transportes cada vez
mais cheios numa cidade cada vez mais lotada.
O governador não apresentou nenhum projeto que indique
mudança. Tampouco ouviu os manifestantes que exerceram o direito de
reivindicar, defendendo a posição da polícia em reagir com lacrimogêneo e balas
de borracha. Criou uma lei proibindo as máscaras, com dúbio propósito: coibir
possíveis integrantes dos ‘black blocs’ e identificar os revoltosos.
De todas as negligências praticadas em seu Governo a mais
agravante é a água. O governador culpa São Pedro pela falta de chuvas, mas
desde que a Sabesp tornou-se empresa de capital aberto, com ações na Bolsa de
Nova York, passou a ser vista como um ótimo modelo de negócio. Em 2005, seu
patrimônio líquido de R$8,5 bilhões obteve R$1,4 bilhão de lucro líquido. Esse
número aumentou em 2013: com R$12,9 bilhões de patrimônio, lucrou R$2 bilhões,
o que representa 14,9% de seu total. Esses lucros são repartidos entre Governo
e demais acionistas, ou seja, estão fora do montante de investimento.
Com a criação do sistema Cantareira, em 1985, 100% da
população paulista era atendida pelo abastecimento de água. Só que, desde
então, a Sabesp e o governo cruzaram os braços e não investiram em novos
mananciais, ignorando o fato de que a população cresceria bastante em todo esse
período. Atualmente, a Sabesp opera às escondidas racionando água nos bairros
mais pobres, afetando mais de 2 milhões de pessoas.
Nos debates da TV, quando questionado sobre o que faria
sobre a água, Alckmin claramente mentiu ao dizer que não há crise hídrica.
Tampouco citou a possibilidade de inaugurar outro sistema como o Cantareira,
que está praticamente seco.
Pior que todos os descasos praticados por Alckmin é a
incapacidade do paulistano de perceber a má gestão há mais de uma década
instaurada no estado.
Alckmin joga os problemas por debaixo dos tapetes, assim
como o estado, que renega aos menos favorecidos qualquer espécie de privilégio.
Pagamos uma das mais caras conta de água do mundo, com o discurso demagogo de
estarmos ‘economizando’. As obras no metrô seguem a passos lerdos: ao fim de
sua atual gestão, entregou apenas 4km de vias férreas ante os prometidos 30km,
conforme promessa feita em 2012.
Portanto, o que posso dizer é que me senti enganado quando
fui às ruas protestar por mudança. Não, o paulistano não quer saber disso.
Prefere manter tudo como está: um naufrágio velado.
Não esperem a última gota d’água da torneira para agir.
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Não esperem a última gota d’água da torneira para agir.