terça-feira, 7 de outubro de 2014

Eleitor traído


Bem que desconfiei daqueles cartazes nas ruas da Avenida Brigadeiro Faria Lima, 17 de julho de 2013. Havia uma revolta incoerente diante da ameaça de aumentar a tarifa do transporte público em 20 centavos.

Clamavam pela ‘mudança’, mas o medo prevaleceu. Assim devemos interpretar a aceitação de 57% dos eleitores paulistas que reelegeram Geraldo Alckmin governador nestas últimas eleições.

Na campanha pelo quarto mandato à frente do estado brasileiro mais rico, não havia nada de ‘mudança’ em seu discurso. Alckmin não detalhou nenhum projeto para a Educação – assim como não explicou o motivo de ter diminuído em 37% a verba para o setor neste anoDesconversou sobre a situação da USP, que está na mais longa greve de sua história por conta dos congelamentos salariais propostos pelos reitores, comprometendo 105% do orçamento da universidade. E ainda não explicou por que recebeu doação de R$4 milhões de três empresas investigadas no cartel do metrô.

Alckmin não representa mudança, pelo contrário, está na reta de um continuísmo nocivo. Deixa São Paulo como está: por debaixo dos panos, assim como os mais favorecidos gostam, numa dinâmica em que os mais pobres permanecem distantes de seus locais de trabalho, pegando transportes cada vez mais cheios numa cidade cada vez mais lotada.

O governador não apresentou nenhum projeto que indique mudança. Tampouco ouviu os manifestantes que exerceram o direito de reivindicar, defendendo a posição da polícia em reagir com lacrimogêneo e balas de borracha. Criou uma lei proibindo as máscaras, com dúbio propósito: coibir possíveis integrantes dos ‘black blocs’ e identificar os revoltosos.

De todas as negligências praticadas em seu Governo a mais agravante é a água. O governador culpa São Pedro pela falta de chuvas, mas desde que a Sabesp tornou-se empresa de capital aberto, com ações na Bolsa de Nova York, passou a ser vista como um ótimo modelo de negócio. Em 2005, seu patrimônio líquido de R$8,5 bilhões obteve R$1,4 bilhão de lucro líquido. Esse número aumentou em 2013: com R$12,9 bilhões de patrimônio, lucrou R$2 bilhões, o que representa 14,9% de seu total. Esses lucros são repartidos entre Governo e demais acionistas, ou seja, estão fora do montante de investimento.

Com a criação do sistema Cantareira, em 1985, 100% da população paulista era atendida pelo abastecimento de água. Só que, desde então, a Sabesp e o governo cruzaram os braços e não investiram em novos mananciais, ignorando o fato de que a população cresceria bastante em todo esse período. Atualmente, a Sabesp opera às escondidas racionando água nos bairros mais pobres, afetando mais de 2 milhões de pessoas

Nos debates da TV, quando questionado sobre o que faria sobre a água, Alckmin claramente mentiu ao dizer que não há crise hídrica. Tampouco citou a possibilidade de inaugurar outro sistema como o Cantareira, que está praticamente seco.

Pior que todos os descasos praticados por Alckmin é a incapacidade do paulistano de perceber a má gestão há mais de uma década instaurada no estado.

Alckmin joga os problemas por debaixo dos tapetes, assim como o estado, que renega aos menos favorecidos qualquer espécie de privilégio. Pagamos uma das mais caras conta de água do mundo, com o discurso demagogo de estarmos ‘economizando’. As obras no metrô seguem a passos lerdos: ao fim de sua atual gestão, entregou apenas 4km de vias férreas ante os prometidos 30km, conforme promessa feita em 2012.


Portanto, o que posso dizer é que me senti enganado quando fui às ruas protestar por mudança. Não, o paulistano não quer saber disso. Prefere manter tudo como está: um naufrágio velado. 

Não esperem a última gota d’água da torneira para agir.

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segunda-feira, 10 de maio de 2010

'Na Mira do Groove', meu novo blog de música


Pessoal, para quem não sabe acabo de lançar outro blog, "Na Mira do Groove", desta vez totalmente voltado para o campo musical, com ênfase em música alternativa e experimental.

A ideia é postar diariamente por lá. 

Obviamente o ritmo de postagens por aqui irá diminuir. Como também gosto de escrever e pesquisar sobre política, internacional, tecnologia, televisão e outros assuntos, sempre que tiver vontade (e tempo) dou uma pingada n'O Atemporal.


Espero que os poucos internautas que visitam esta página deem uma passada no "Na Mira do Groove", principalmente aqueles que querem estar informados com aquilo que acontece no cenário musical alternativo. 

Aguardo a visita de vocês e fico aberto para sugestões, comentários e críticas por lá.

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Ao manter o texto da Lei da Anistia inalterado, o Supremo Tribunal Federal (STF) colocou no mesmo patamar torturadores e torturados, o que significa um claro exemplo de retrocesso por parte do Judiciário, e não um avanço como o ministros que votaram a favor defendem.

O julgamento comprova o quanto o Brasil está arraigado aos interesses dos calhordas que só contribuem para o retrocesso do país. Eros Grau, ministro que já sofreu com a tortura durante o Regime Militar e foi o relator do caso, achou melhor enterrar o assunto por acreditar que a Lei da Anistia de 1979 foi imprescindível para a transição democrática do país.

Entretanto, a lei precisa de uma revisão porque foi elaborada por torturadores que, tendo em vista que o Regime estava fadado a cair, a usaram como álibi para retornarem à democracia sem serem punidos por seus atos repudiantes.

Ou seja, a Lei da Anistia, quando foi editada na época, surgiu como uma faca de dois gumes: se por um lado os ativistas políticos estavam 'perdoados' por seus atos, os militares e torturadores foram legitimados pela violência generalizada contra os opositores.

Maria Amélia de Almeida Teles, integrante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, certa vez afirmou em um artigo para o "Le Monde Diplomatique Brasil" que "ao colocar no mesmo patamar vítimas e torturadores, o governo criou uma aberração jurídica, inadmissível num Estado democrático de direito".

Os ministros do STF não querem se comprometer com o passado histórico do Brasil, mas acabam deixando pra trás uma oportunidade de reforçar os valores democráticos da sociedade. Como bem afirmou o colunista Fernando Rodrigues da Folha, o país "repudia mas não condena", optando pelo caminho da "conciliação e não do confronto" (para ler o artigo, clique na página ao lado). 

Entretanto, essa passividade pode se tornar uma conta muito cara em um futuro não muito distante. A sociedade civil não deve aceitar calada essa decisão justamente porque ela negligencia a luta de intelectuais, jornalistas, estudantes e ativistas contra o regime autoritário. Neste caso, não deve haver perdão para ambos os lados - ou a palavra Justiça não faz jus ao seu significado.

Se existe um legado nocivo para a história do país é a falta de comprometimento com a Justiça. Com a decisão de manter o texto da Lei da Anistia como está, o STF desrespeitou o direito de luta da sociedade civil e provou que, não importa qual seja a condição da batalha, os mandatários sempre vencem. Estejam do lado onde estiver.


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quarta-feira, 28 de abril de 2010

50 músicas no iPod

Começou lá com o Daniel Piza, colunista do Estadão. Ele selecionou, descompromissadamente, 50 músicas que entrariam em seu iPod. Não sou muito fã em escolher músicas separadamente: sou um ávido ouvinte de álbuns inteiros. Mas achei tentadora a experiência de colocar 50 canções.

Biajoni também fez uma lista dessas. E muitos outros também.

Abaixo, segue as 50 canções que ando escutando com frequência nos últimos dias. Lembrando que está longe de ser uma lista de álbuns favoritos ou listas definitivas. São apenas canções, em sua essência.


Abaixo, as outras 25:

 
Faça você também. É divertido.


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sexta-feira, 23 de abril de 2010

O (incerto) futuro dos livros


Hoje, comemora-se o Dia Mundial do Livro, instituído pela UNESCO em 1996 por ser a mesma data da morte de dois dos maiores escritores de todos os tempos: Miguel de Cervantes e William Shakespeare.

O livro ainda é sinônimo de fomento à inteligência, mas, do jeito que as coisas andam, não será por muito tempo. Já participei de muitas discussões sobre o assunto; em muitas delas, prevalecia o tom tradicionalista de que o papel é insubstituível e, portanto, o livro jamais deixaria de sair de circulação. Isso é meio verdade. Afinal, o disco  foi mercadologicamente superado pelo CD e mesmo assim permanece à venda.

Entretanto, a utilização do vinil hoje em dia é muito mais uma prática saudosista do que realmente uma necessidade de consumo. Com o livro, pode ocorrer o mesmo.

Como muitos já devem estar exaustos de saber, o iPad é a nova pata dos ovos de ouro. Com suas vendas a mil, o mercado, obviamente, irá direcionar boa parte da produção literária para esta plataforma. Os usuários mais modernos devem estar adorando este fato, mas isso implica em alguns embargos de propriedade intelectual que podem mudar o modo de comercialização de obras literárias.

Embargos como: quem será o responsável pela distribuição? - Até agora, só se tem notícia de que o Amazon.com detém a maioria dos títulos autorais, já que é um dos principais mercados on-line da atualidade e fecham, com grande vantagem, parceria com os fabricantes de aparelhos como Apple e (posteriormente virá a ser) Google. Isso pode acarretar em um monopólio de vendas, que em nada ajudaria o leitor consumidor.

Com isso, a prática saudosista (como acredito que um dia a leitura de um livro de papel será - posso e espero estar enganado) acaba ganhando forças, o que é uma boa e ainda deixa as grandes livrarias inseridas no mercado. E isso está realmente acontecendo. Recentemente, a Livraria Cultura iniciou suas vendas de e-books on-line, disponibilizando títulos que saem até 20% mais barato do que se for comprar em papel.

Assim, as livrarias estariam passando a desempenhar o papel de lojas segmentadas on-line, invertendo todo o processo de compra de títulos. Sendo mais barato, consequentemente o autor pode ou não ter prejuízos com a venda da obra. Levando em consideração que apenas uma pequena quantia vai para o seu bolso (o resto para editoras, livrarias e publishers), pode ser uma boa sacada ter uma obra on-line. Mas isso só se provará como uma medida realmente lucrativa se os hábitos de leitura mudarem com a aquisição destes novos aparelhos tecnológicos, como Kindle, iPad e outros e-readers.

Quanto aos livros de papel, para sobreviverem, dependem de inúmeros fatores que independem das inovações tecnológicas. Um deles é o barateamento de obras literárias. Como ainda se vê, infelizmente, no Brasil o livro ainda é inacessível para muitas leitores. Editoras e livrarias lucram a rodo com a venda de títulos que acabam sendo atribuídos a uma elite literária que tem poder aquisitivo para comprá-los.

Mas o que mantém o otimismo é saber que os sebos estão cada vez mais onipresentes na rede, o que faz com que leitores recorram a eles para adquirirem livros mais baratos. Em minha opinião, esse é o fator nº 1 para a sobrevivência do livro de papel em longo prazo. Com o redirecionamento da produção literária para as novas plataformas, os sebos ficariam bem mais requisitados. Não só pelo saudosismo - mas também pelo grande catálogo de que dispõem - muitas lojinhas de livros usados estão desenvolvendo seu website para alavancar as vendas (como mostra o vídeo abaixo).


O fator nº 2 é a hereditariedade dos hábitos. Por exemplo, se você, leitor de livro de papel, tem contato com as obras literárias desta maneira, consequentemente irá passar para filhos, netos, etc. Isso é meio que óbvio. Mas, o ponto que quero chegar é: o saudosismo ao livro pode fazê-lo resistir diante da brutalidade do mercado em querer investir maciçamente nas novas plataformas.

E, finalmente, o fator nº 3: se nenhuma das promessas de tendência de leitura e-reader der certo, certamente o livro de papel prevalecerá. Isso é algo impossível de prever, tendo em vista que a maioria dos leitores são de classe média pra cima e geralmente têm ou terá acesso a esses aparatos. Com os padrões mudando, pode ser que o papel se torne mais acessível e garanta que a parcela mais baixa tenha mais contato com as obras literárias.

Como se vê, a permanência do livro de papel é positiva em praticamente todos os aspectos. Ela é mais aceita, inclusive, com a chegada destas novas plataformas. Se o barateamento realmente for o caminho, o mundo poderá ler mais e, consequentemente, o analfabetismo poderá ser vencido. Mas isso, é claro, também depende de políticas públicas e privadas que estimulem a leitura, possibilitem o ingresso das novas tecnologias e tornem o livro de papel um material mais acessível. 


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Atualmente os jornalistas de todo o mundo, principalmente os brasileiros, vivem um momento delicado na profissão. A incerteza do impacto das novas mídias tirou a estabilidade de muitos profissionais, já que a era da internet praticamente dizimou o paradigma do "pague pelo conteúdo", que algumas empresas jornalísticas pretendem resgatar.

Aqui, a lei aprovada ano passado que acaba com a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão causou polêmica, suscitando em reivindicações que até hoje ganham respaldo da imprensa. 

Muito se fala do verdadeiro papel do jornalista, que deve ser exercido indubitavelmente com ética, mas, como resistir às tentações? 

Tentações como: pra que ficar conversando duas horas com uma fonte que se materializará em apenas duas linhas da reportagem? Por que se envolver diariamente em leituras densas se ao final do dia terei que entregar o material exigido pelo editor/diretor? Por que dar atenção ao público?

Rupert Murdoch, bilionário dono da Time Incorporation, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo (que inclui os jornais Washington Post e The Times), certa vez admitiu que vê os jornalistas como operários que devem seguir um protocolo para que o jornal ou site saia redondo no prazo estabelecido. Atualmente ele está em pé de guerra com o Google e pretende cobrar pelo conteúdo informativo de suas publicações.

Alguns estão demorando a entender, mas a profissão de jornalista está passando por uma revolução que não pode ser ofuscada. Qualquer um, hoje em dia, pode ser jornalista. Basta criar um blog, montar uma rede social informativa ou atualizar conteúdo via WAP pelo celular. E isso é muito bom. Afinal, o público não é a maior preocupação do profissional em jornalismo? Quanto mais informação o leitor/espectador/internauta dispor, mais ele se sentirá informado.

Todavia, para tudo há um porém. O excesso de informação está deixando todo mundo meio louco. Embasbacado mesmo. Nem mesmo logado com as redes sociais os internautas se dão conta de tudo o que está acontecendo. Não é que acontece muita coisa; é que noticiam muita coisa. Muito desse material passa longe da triagem de um jornalista.

Portanto, o que resta ao jornalista é o seu nome, a sua conduta como profissional, e isso pode levar um tempo para ser conquistado. Na minha opinião, com a enxurrada de conteúdo postada em todos os meios de comunicação, os receptores ficarão mais atentos com a pessoa que produz o material, e não a empresa de comunicação que está por trás.

Algumas exceções aparecem - o que pode ser bom ou ruim -, mas a pessoa, o jornalista, o indivíduo que escreveu a matéria fica mais exposto com a reportagem ou artigo que assina o nome. Na prática, tal fato deveria contribuir para melhorar a qualidade dos textos escritos - o que em muitos casos realmente acontece. 

Mas bato o pé por algumas falhas que deveriam ser corrigidas. Por exemplo, quando um portal ou mesmo um jornal traz uma hard news (que em jargão jornalístico significa notícia de última hora), deveria colocar a assinatura do profissional que a redigiu, independente se é estagiário, CLT, free-lancer, diretor, presidente... Em muitas dessas notícias se vê a assinatura "Da Redação", que em minha opinião é um verdadeiro exemplo de anti-serviço público. Afinal, como confiar em um conteúdo redigido por alguém que não conheço?

Acredito que este fato contribui para a preguiça nas redações, já que o profissional se sentirá a vontade de fazer uma triagem pela internet de outras publicações e fazer um Ctrl+C, Ctrl+V para ser publicado o mais rápido possível. E esse método da rapidez é sustentado pelos empresários da comunicação, que cada vez mais mostram que estão se lixando para a opinião pública.

Por isso que hoje, 7 de abril, no Dia do Jornalista, todos os profissionais deveriam repensar a profissão porque ela passa por um momento delicado que exige a reflexão daqueles que fazem a notícia acontecer. Ou as duras palavras de Murdoch podem ser mais verossímeis do que pensamos.


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Creio que todo cidadão tem o direito de mudar de opinião. Às vezes, quando colocamos algumas ideias na cabeça, deixamos de ouvir as vozes divergentes para que nossa opinião ganhe consistência e fique preservada pelo menos no nosso imaginário. Em outras palavras, por teimosia deixamos passar alguns bons momentos para não entrar num conflito com nosso próprio ego.

Quem lê esta página há algum tempo, sabe que vivo argumentando que o rock morreu. Tomando emprestado o clássico refrão de Raul Seixas, justifico minha "Metamorfose Ambulante" com alguns personagens que vêm moldando o ritmo musical da atualidade, como o faz o grupo Them Crooked Vultures.

Não tinha como dar errado. O projeto é tocado por nada menos que grandes mentes do rock atual: Josh Homme (guitarra e vocais), do Queens of The Stone Age, produtor do novo álbum do Arctic Monkeys e uma das grandes influências do gênero na atualidade; Dave Grohl (bateria), frontman do Foo Fighters, parceiro de Homme na gravação de "Songs For The Deaf", do QOTSA, e ex-baterista dos reis do grunge Nirvana; e John Paul Jones, ninguém menos que o baixista da legendária banda britânica Led Zeppelin.

O álbum homônimo do grupo foi lançado ano passado e foi considerado o segundo melhor lançamento fonográfico de 2009 pela revista Rolling Stone brasileira.

Só tem rock pesado. Já inicia com "Nobody Loves Me & Neither Do I", que tem um riff barulhento que foge de qualquer vertente sonora das já exploradas pelos grupos de cada integrante. A maior influência que se vê nesses projetos, talvez, seja mesmo o Led Zeppelin, por razões que dispensam qualquer comentário - afinal, LZ já serviu de força motriz pra muita banda de rock.

Já adianto dizendo que todas as músicas do álbum são boas. As que se destacam são: "New Fang", que inicia com uma bateria pesada à lá Nirvana e é pontuada por riffs pausados que caracterizam o estilo agressivo de Josh Homme nas guitarras; "Elephants", uma faixa visceral que é trabalhada em duas velocidades, dando-lhe um tom de impulsão e, ao mesmo tempo, repulsa; e "Gunman", que começa com um toque meio sulista que relembra trilhas sonoras do faroeste e, abruptamente, cede a uma sonoridade indie que retrata sobre as mazelas da guerra e do pensamento tirânico na pele de um jovem soldado. 

Isso sem falar das ótimas "Reptiles", "Bandoliers" e "Scumbag Blues". 

Convido todos os atemporais a ouvirem esse som. Abaixo, Them Crooked Vultures toca "Elephants", nos Estados Unidos:



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quarta-feira, 10 de março de 2010

O feminismo em uma modernidade machista

Mariana se considera uma feminista moderna por contrariar todo o esquema social que há milênios prioriza os homens. Não se conforma com dados historiográficos que enaltecem os heróis masculinos e faz o que pode para reverenciar as figuras femininas que fizeram da vida humana, como ela mesmo define, "algo mais suportável de se aguentar".

Fernando é um cosmopolita de carteirinha, bebedor nato de cerveja forte e vodca russa e um grande apreciador do ato da paquera. Regozija-se com sua moto de 600 cilindradas e gosta de apostar em mega sena acumulada e nos bolões de jogos estaduais. 

Eles se conheceram no trem lotado de manhã, após uma conversa informal que questionava o sistema de transporte público.

- Pegar trem de manhã é embaçado. Tá certo que é mais rápido e tudo o mais, mas não deixa de ser uma porcaria! - reclamava o ranzinza Fernando, que sempre fazia prevalecer suas vontades quando se achava detentor da razão.

Saíram e acabaram descendo na Avenida Paulista. Descobriram que trabalhavam no mesmo prédio e lamentaram não se conhecer anteriormente, devido ao interesse surgido de um pelo outro no decorrer dos diálogos.

Mas tudo tem um momento derradeiro; o que realmente pesa na balança é a intensidade de cada falha humana para trazer à tona o sentimento de decepção.

- Como você me diz que é a favor das mulheres na política mas não tem nenhuma inclinação a votar na Marina Silva ou na Dilma? Isso me soa patético, como muitos desses argumentos feministas que têm infectado o noticiário .

- Fernando, entenda uma coisa: não é porque sou uma mulher politizada e militante da participação feminina na sociedade que devo dar meu voto a essas candidatas que não têm um projeto que concordo. Acho que você não entende a causa: lutamos por uma sociedade igualitária, onde temos o direito de fazer o que quisermos sem ser questionadas e ainda contar com a igualdade nos escalões sociais. Muito me indigna ver mulheres ganhando menos em empresas, tendo os piores cargos, trabalhando mais que os homens...

- Beleza, mas não custa anda dar um apoio a uma mulher. Significaria uma vitória do feminismo.

- E um aprisionamento partidário, tendo em conta que não concordo com o que essas mulheres dizem. Isso também é ser igual.

- Então não me venha criticar os homens que realmente mudaram a história - finalizou Fernando, com um gosto de que venceu a guerra contra os argumentos ultrapassados de Marina.

Deve-se pôr em xeque que Fernando estudou em universidade pública  e participou de movimentos estudantis. Marina pagou como pôde para ingressar em uma instituição privada que  não desfruta do prestígio de uma pública. Políticas de ensinamento à parte, Marina sempre se empenhou para o trabalho e Fernando teve bastante tempo para focar nos estudos enquanto jovem.

Eles trabalham na mesma empresa, mas mal se conheciam. Fernando era Assistente de Marketing há cerca de dois anos e tinha um salário por volta de R$3.000; Mariana era Gestora de RH há quase sete anos e ganhava por volta de R$2.500. Ambos entravam às nove da manhã, mas Marina era responsável por cuidar do treinamento de novos funcionários e dos relatórios a serem entregues para seu superior, que chegava a ganhar quase o triplo de seu salário. Ela saía lá pelas oito da noite, enquanto Fernando saía às seis religiosamente.

Outra vez Marina e Fernando se encontraram, depois de interromperem as relações.

- Se as mulheres não têm os melhores cargos, é porque elas não têm capacidade - afirmou categoricamente Fernando.

- Sabe por que as mulheres não são iguais aos homens? Porque eles construíram uma fortaleza que impede que elas sejam colocadas no mesmo nível política, econômica e socialmente. Eles detêm o poder. Agora, milhões de anos depois do primeiro homem pisar na Terra, esses direitos são reivindicados. A pressão deve ser feita. As mulheres realmente ainda estão por baixo. Já vi homens que defendem direitos das mulheres mas não abrem mão de seus altos salários para fazer valer a igualdade. Tá rolando muita demagogia com isso aí.

- Eu não abro mão, mas pelo menos admito que tenho um pé no machismo.

Mariana saiu pensativa. Começou a fazer um retrospecto de todos os homens que conhece e intelectuais que admira para revisar o verdadeiro sentido do termo feminismo. Existe muita demagogia mesmo, preconceito rola a toda parte... o mundo está mudando e ela faz o possível para ser uma das protagonistas dessa transição. O machismo ainda é o grande algoz dessa gestora, mas ela percebeu que lidar com ele é algo que cada vez mais fará parte de seu cotidiano. Afinal, ela trabalha em uma empresa cujo presidente, vice e maioria dos conselheiros são homens.

Talvez o feminismo estivesse preparado para vencer, mas seu campo de batalha cria inúmeros obstáculos para que ele possa iniciar o confronto. Mariana percebeu isso nos argumentos sinceros de Fernando, apesar de não compreender como o machismo ainda se faz presente no discurso moderno. Pode ser que tudo gire em torno de uma futura igualdade, mas Mariana é esperta o bastante para saber que só a sustentação dessa utopia não deixa de ser uma ilusão difundida pelos 'machistas modernos'. Afinal, os argumentos mudam mas a situação continua a mesma.

No dia seguinte, Mariana se deparou novamente com Fernando e fez questão de não tocar mais no assunto do feminismo. Afinal, ela decidiu se conformar, pois chegou a conclusão que o machismo ainda dita as diretrizes para a permissividade do feminismo. Sua causa estava praticamente fadada à derrota e ela decidiu que era hora de seguir em frente, assim como se estivesse se superando de um relacionamento.

- E aí Fernando, podemos assistir aquele futebol juntos e tomar uma cerveja gelada depois do expediente?

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* É com pesar e atraso que declaro um Feliz Dia Internacional às mulheres de todo esse globo, apesar de achar que todos os dias deveriam ser dessas pérolas, que fazem nossas medíocres vidas serem mais suportáveis.


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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Dilma Rousseff e o 'Estado forte'

 
No pronunciamento de sua pré-candidatura, Dilma Rousseff pregou a necessidade de um Estado forte e reaparelhado. Os principais jornais do país (O Globo, O Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo) não perderam a oportunidade de estampar a declaração em suas manchetes. 

Neste caso, é necessário relembrar que o Estado tem, sim, papel fundamental na construção da cidadania e na consolidação da democracia. Ora, como determinados setores sociais podem avançar sem o aval e o investimento do Estado? Como uma nação pode se considerar progressiva e desenvolvida sem que o governo auxilie sua população a ter acesso a bens de educação, saúde, lazer e emprego?

Da forma como os jornalões noticiaram, dá a entender que Dilma Rousseff, por ser uma candidata que não desfruta da mesma personalidade extrovertida de Lula e por ter-se envolvido em questões militares enquanto lutava contra a Ditadura (como o sequestro do embaixador norte-americano), pode estar inclinada às decisões radicais, contrariando o jogo do neoliberalismo que ainda alarga os sorrisos do setor empresarial.

A fortificação do Estado foi o argumento utilizado pelos militares para a manutenção da 'ordem' no país enquanto a repressão comia solto. O papel do Estado também foi fator decisivo para as políticas implantadas por Getúlio Vargas antes, durante e depois do Estado Novo, em 1937. 

Há várias ressalvas a serem feitas quando se fala em 'fortalecimento do Estado'. Prendendo-me ao discurso e não às idiossincrasias da candidata, um Estado autônomo tem o dever concreto de facilitar, fazer acontecer, presenciar e administrar corretamente cada delegação a que está incumbido. Esse é o seu papel fundamental.

Ao contrário de alguns exemplos, não é um Estado forte que determina que setores devem ser 'estatizados', tal qual Venezuela, ou que as principais obras de infra-estrutura devam ser realizadas pelo orçamento estatal. Em alguns casos, pode-se dizer que há 'abuso de Estado', mas sua simetria é absolutamente relativa, pois cada nação tem necessidades diferentes. Explico: se o Estado não tem condições de garantir o bem estar de seus cidadãos, deve contar com o apoio da iniciativa privada para obras de infraestrutura, por exemplo, e reservar seu orçamento para investimentos mais urgentes, como saúde básica.

No jogo do capitalismo, um Estado forte deve valorizar, também, a iniciativa privada. Afinal, é ela que garante investimentos exteriores e a remessa de grandes fluxos de capital, que contribui para a melhora econômica do país. Entretanto, o Estado deve garantir que o direito dos cidadãos devem ser priorizados, mesmo que medidas mais ousadas tenham que ser tomadas.

O QUE A CRISE NOS ENSINA

A crise econômica de 2008-2009 provou de vez que as amarras do neoliberalismo podem ser nefastas. Deixar a economia gerar por ela mesma suscitou no maior rombo financeiro global desde o "Crash de Nova York", de 1929. O descaso estatal nas operações financeiras e nos rumos econômicos da nação foi a força motriz para que a bolsa despencasse.

Todavia, temos a China crescendo normalmente, com seus 10%, mesmo com uma recessão global. E aí caímos naquele paradigma: por quê? Ora, pela onipresença do Estado. Muitos podem argumentar que a China explora seus trabalhadores, mantém uma política repressiva e tudo o mais. Mas, gostaria que me explicassem o fenômeno: como, em 1978 (com Deng Xiaoping), um país hegemonicamente agrícola conseguiu tirar da miséria, de uma só vez, mais de 300 milhões de chineses? Com uma forte política de Estado, que há décadas é mantida na China.

Nos Estados Unidos, Barack Obama mantém uma política de Estado forte - e algumas vezes necessariamente interventor - para que o país saia o quanto antes da recessão econômica. Cede empréstimos a bancos e indústrias automobilísticas para que o setor privado também se fortaleça. Nesse caso, vemos que é possível, sim uma progressão do público e privado sem que interesses diretos entrem em conflito.

Quando falo de Estado forte, digo que deve haver, sim, uma sincronia com o setor privado, a partir das necessidades de sua nação. Pelo Brasil, digo que essa dinâmica é bem trabalhada. Mas ainda falta muita fiscalização e mais independência.

Pois, quando o Estado enfraquece e, consequentemente, o investimento privado aumenta de forma exponencial, alguma coisa está errada. O Estado fica dependente e, as decisões que lhe cabem, são automaticamente tomadas por outros. O que não quer dizer que o Estado tem o direito de silenciar vozes da oposição, limitar iniciativas privadas ou calar a imprensa. Longe disso. 

O Estado tem o dever de fazer valer a voz da população, pois ele é a sua representação máxima. E, se a voz do povo está fortemente representada, nenhum direito pode ser deturpado e nenhum interesse individual pode estar acima dos rumos da nação. Não se pode confundir Estado com políticas individuais. Ou o seu sentido perde-se completamente em discursos camuflados.


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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

'Atemporalizando' completa 1 ano


É com atraso que informo aos leitores desta página que o "Atemporalizando" completou 1 ano no dia 12 de fevereiro (sabe como é, Carnaval... 2010 começa praticamente agora). 

Já sentei e elaborei inúmeros esboços antes de criar esta página, colhendo frutos de dois blogs malsucedidos que não duraram nem meio ano na blogosfera. Diferente dos outros, o "Atemporalizando", de certa forma, angariou mais leitores (aquela meia dúzia fiel, mas que está sempre opinando) e tratou de vários assuntos. Apesar de Música ser o tema que mais rendeu postagens, já escrevi sobre Política, Urbanidade, Internacional, Internet, Jornalismo e até Big Brother. A falta de um tema único editorial pode refletir a inconsistência dos 'page ranks' de um blog que, na verdade, não passa de subterfúgios textuais de um autor simplório.

Também aprendi bastante com esta página. Foi com ela que comecei a fuçar em linguagem HTML, procurar novos layouts, testar novos aplicativos. Confesso também que já roubei muitas ideias de blogs afora, como widgets do Afroências ou estilo textual d'O Biscoito Fino e a Massa, entre muitos outros.

Entretanto, daqui pra frente pretendo colocar algumas pequenas mudanças nesta página. A começar pelo nome, "Atemporalizando", que soa bem complicado. Ah, pra quem não sabe, a origem deste nome veio do nada, vagou pela mente mesmo. Sempre gostei de trabalhar com as ideias fora de seu tempo, escrever sobre artistas que morreram há 32 anos, 6 meses e 24 dias atrás ou analisar um evento que está fora da discussão global no momento. Algumas vezes me deleitei nessas incursões atemporais, como a possibilidade futurológica de Ray Kurzweil ou um apanhado geral sobre as principais bandas punk de "Mate-me Por Favor", que se tornaram o début deste blog com mais de dez postagens. Desnecessário dizer que poucos  conheciam o blog naquele momento e muitos que aqui pingam nem chegaram a ler a influência de Velvet Underground e The Doors no punk rock até o auge e a decadência do movimento com Ramones, Patti Smith, The Clash e Sex Pistols.

Há algumas semanas venho tentando obter um domínio, mas está tão complicado... alia-se a isso minha falta de tempo e já se viu! Entretanto, pretendo deixar o mesmo layout, os mesmos widgets, o mesmo esquema de postagem... Na verdade, "Atemporalizando" é um nome horrível; pronunciá-lo, às vezes, me dá náuseas. Pra não mudar muita coisa pensei em deixar "O Atemporal", que de certa forma não altera as diretrizes ideológicas da página.

Enfim, fico aberto a sugestões. Mudar o nome também facilitaria pesquisas no Google, o que de fato atrairia mais leitores. Não sei quanto tempo demorarei para aplicar tais mudanças, mas adoraria de receber dos leitores algumas sugestões a mais.

Enquanto isso, celebro o aniversário desta página com uma lata de cerveja na mão expandindo, na medida do possível, minha mente à imensidão, como já dizia o bom e velho Chico Science

Saúde a todos e, agora sim, um bom 2010!!!!!


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